Cláudio Carvalho Fernandes
"A existência precede a essência"
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Trump voltou à Casa Branca determinado a cumprir promessas isolacionistas de campanha. Foto: Chip Somodevilla/POOL/AFP

 

 

 

Na era Trump, é possível ser ‘amigo de todos’? A volta do republicano à Casa Branca impõe novos desafios à diplomacia brasileira.

Por André Lucena

 

Bem ao seu estilo, Donald Trump resumiu como enxerga a relação entre o país que volta a governar após quatro anos, os Estados Unidos, e os países da América Latina, especialmente o Brasil.

 

 

 

 

 

Na era Trump, é possível ser ‘amigo de todos’?

 

A volta do republicano à Casa Branca impõe novos desafios à diplomacia brasileira

 

por André Lucena

 

 

 

Bem ao seu estilo, Donald Trump resumiu como enxerga a relação entre o país que volta a governar após quatro anos, os Estados Unidos, e os países da América Latina, especialmente o Brasil. “A relação é excelente. Eles precisam de nós, muito mais do que precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós".

 

 

 

As declarações, recheadas de clichês, estamparam as capas das principais publicações locais. Diretas e pouco diplomáticas, são exemplares precisos da retórica trumpista, que mistura verdades e exageros.

 

 

 

O Brasil, por exemplo, “precisa mais” dos Estados Unidos, como demonstram dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Em 2024, o fluxo comercial entre os dois países somou US$ 81 bilhões, equilibrado entre exportações brasileiras (US$ 40,33 bilhões) e importações (US$ 40,58 bilhões). Além disso, os EUA respondem por 34% do estoque de investimentos estrangeiros no Brasil, conforme o Banco Central, consolidando seu peso na economia brasileira. Na prática, contudo, o comércio exterior se desenrola entre os dois países de modo mais ou menos independente do governante em ocasião, seja lá ou cá.

 

 

 

A volta de Trump ao poder, ainda mais determinado a dividir o mundo entre aliados e adversários, contudo, pode de fato forçar um reposicionamento da diplomacia. A forma de liderar do republicano exige cálculo cuidadoso dos países que negociam com a maior economia do mundo. “Trump, até por sua personalidade, exerce uma liderança do tipo: ‘se você cede, ele quer mais’. Não é que, ‘se você cedeu, ele faz o acordo’. Ele sempre quer mais”, avalia Rafael Ioris, professor de História Latino-Americana na Universidade de Denver. nos EUA.

 

 

 

Historicamente, a América Latina é menos um objetivo estratégico dos EUA e mais um campo de disputa pela hegemonia global. Foi assim durante a Guerra Fria, com o apoio a regimes militares sul-americanos para conter a União Soviética. Hoje, as tensões escalam em um cenário de guerra na Ucrânia e disputa comercial entre EUA e China. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, classifica a China como a “maior ameaça” à prosperidade dos EUA neste século. Nesse contexto, surge a pergunta: como o Brasil deve se posicionar?

 

 

 

Como liderança regional, com peso no debate climático e relações diplomáticas sólidas com EUA e China, o Brasil enfrenta desafios em um mundo cada vez mais polarizado. A tradicional neutralidade diplomática é cada vez mais questionada. A impressão é de que, neste mundo cujo multilateralismo parece um ideal cada vez mais distante, não é mais possível ser “amigo de todos". “O espaço para não escolher lados está se estreitando", alerta Ioris.

 

 

 

Segundo o especialista, a diplomacia brasileira carece de clareza frente ao novo cenário. “Lula sempre disse que quer ‘se dar bem com todos’. Mas talvez o outro não queira que você se dê bem com todos, apenas com ele”, pondera. Para Ioris, é crucial definir o que não pode ser negociado e onde há margem para diálogo. “Acho que isso não está claro no governo brasileiro. Esperava-se que a diplomacia brasileira resgatasse a postura mais altiva do primeiro mandato do Lula", diz.

 

 

 

Embora os EUA frequentemente tratem os países latino-americanos como uma massa homogênea de nações dependentes, reconhecem particularidades importantes. O México, por exemplo, enfrenta problemas fronteiriços que constantemente dominam a agenda bilateral. Já o Brasil, há mais de uma década e meia, mantém a China como principal parceiro comercial e ocupa posição de destaque no Brics — grupo de economias emergentes que discute alternativas ao dólar norte-americano em transações internacionais.

 

 

 

Segundo Rafael Ioris, “há uma preocupação dos EUA de que o Brasil deve ser coibido em suas ‘aventuras autônomas’ na diplomacia. Trump já deixou claro que não tolerará movimentos excessivamente independentes no Brics”.

 

 

 

Nesse cenário complexo, o Brasil poderia se inspirar no México de Claudia Sheinbaum, que tem dado respostas firmes aos delírios do republicano — como renomear o Golfo do México para "Golfo da América" e impor tarifas a produtos mexicanos. O governo mexicano já alertou que uma guerra tarifária traria prejuízos também aos EUA, e cogitou taxar produtos norte-americanos como retaliação.

 

 

 

 

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Cláudio Carvalho Fernandes, CartaCapital e André Lucena
Enviado por Cláudio Carvalho Fernandes em 26/01/2025
Alterado em 26/01/2025
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