jus
para a beleza
de todos os meus desejos
apenas este, mais nenhum:
gastar todos os meus beijos
pra te dar ao menos um!...
para minha amiga Mara
você é um poema da natureza
dizendo que a vida vale o enquanto
durar o vir ver a tua beleza
no infinito instante deste encanto
musamada passeava pelos campos em alegria
quando confusa abelha pica-lhe o peito
pensando ser, talvez, uma outra flor que havia
desabrochado no ar, por algum mágico efeito
“Eu”, atento fauno, de plantão, todo insuspeito,
apressa-se em aliviar a dor que a crucia,
com muito remédio, da mesma abelha, de mel feito,
para uma das flores irmanadas em harmonia...
e menos de se esperar não seria
vir, de uma flor para outra flor,
ver o bálsamo para crua agonia:
por enquanto, de bom, o mel lambe-lhe a dor
e, lambendo sua nua forma, o mau desejo (se) alivia
(d)a profunda picada no peito que lhe deu Amor...
da complexidade dos sentimentos e emoções
não há nada tão certo sobre a terra
quanto aquilo que menos supões:
o amor é mais difícil do que a guerra!...
a tarde pública se guarda em metralhadoras
gasta-se a vida no hermetismo da rosa
flor que ronda as manhãs conquistadoras
de mais noites despetaladas em sua rota
quarto
quadro
quatro
o que importa é o gado:
importa a fome massificada
em alimento logo preparado
nesses pastos de mais nada
gado enganado e engordado
com o pó da vida minguada
remarcado e feliz esse gado
exporta a força da boiada
gado descuidado, embriagado gado
pelo verde e a água da chuvarada
em seu couro, pelo sol salgado,
o viver se curte na vida parada
o que em parte é o gado
comporta a forma nulificada
sem a(u)limento: o só arrebanhado
desde o mato até menos cada
a morte industrializada
sob o rótulo “VIDA”
abastece em cada rês
a existência perdida
américa, soy loco por ti, de amores,
mesmo sem a guerrilha do povo
e com a mesmice de outras flores
mais vale sonhar o teu sonho sempre novo.
américa, soy loco por ti, de amores,
é tua a vida em que me movo
por entre tons de várias cores
mas todas saídas de próprio ovo.
américa, de amores, soy loco por ti,
pelos longos quinhentos anos
de curtir a rexistência que vivi.
américa, por ti, soy loco de amores,
e por todos los hermanos
que repartem alegrias e dores.
“prima quae vitam dedit hora carpit”
O amor na vida se apresenta
para alguns como chama calma
para outros como vã tormenta
que só desgosta mais a alma
Sentimento de cargas opostas
que desgastam toda resistência
por vezes sem mostrar respostas
apesar de toda uma existência
Para alguns é a própria vida
para outros a própria morte
emoção da razão dividida
sem ter rumo sul ou norte
Amor
Cantiga alegre ou triste
sombras claras ou furtivas
de algo que somente existe
em almas mortas e vivas...
drama
minha paixão é bela
e, tristemente, assim:
eu não vivo sem ela,
ela vive sem mim...
de tudo o que se leva adiante
para o poeta popular Zé Bezerra
Que não se tema o caminho
Nem a ânsia da procura
Pois somente o carinho
Já é muito de ventura
Beserol
A vida em si acaba contendo
Um dilema bem difícil de tratar:
Ou se vive amando, e sofrendo,
Ou se sofre então, por não amar...
Disfarce
A beleza é o disfarce
Da ignorância para que
A paixão possa expressar-se
Como vida do vir ver...
SAUDADE
Saudade,
Fantasma da presença,
Distância que é quase nada
Para a pessoa que pensa
Na outra pessoa amada...
Saudade,
Encontro na distância,
Num único pensamento:
Duas vidas nessa ânsia
De viverem o mesmo momento...
Saudade,
Espaços vagando no tempo, na vida,
Futuro presente de um passado
Vivenciando a lembrança da presença querida
Em um encontro distanciado.
Saudade,
É algo para se pensar:
Como viver essa realidade
Se, de tanto e tanto amar,
Se ultrapassa a felicidade?...
Soneto polimétrico I
É preciso um pouco de carinho
mesmo com todos os perigos
pois em se abandonando o caminho
não se chega jamais aos destinos contíguos
É preciso um pouco-muito de confiança
e mais de vida na vida em flor
para que ainda exista esperança
num mundo fechado para o amor
É preciso que ainda se encontrem
no carinho um homem e uma mulher
para que nesse encontro se encantem
e façam renascer num gesto de fé
tanto amor quanto existia ontem
para a vida reviver, como se quer...
POEMA A UMA SENHORA
Existe um grito calado em meu peito
ecoando em minha alma pela tua distância
Se fosses minha não sei bem se seria direito
mas ao menos em mim mataria essa ânsia
Esse desejo louco que é minha vida
querendo fazer da tua vida feliz.
Porém, nem posso chamar-te de querida
pois assim o meu mau destino o quis
Às vezes a ilusão me adormece
e eu sonho contigo num amor sem fim,
mas logo me vem acordar a distância que cresce
sempre a te afastar mais e mais de mim.
E então eu me pergunto, desiludido e tristonho,
por que mereci tão triste caminho?
Será que o amor é apenas um sonho
que com o tempo se transforma em espinho?...
E ainda pergunto a mim somente
por que tanto sofrimento a quem tanto ama
e por que amar a quem nos é indiferente
se não há combustível para essa chama?...
Mas eu ainda me culpo por não saber te dar
a exata dimensão deste amor sem fim
Só posso mesmo dizer que te amar
é o que há de melhor e mais belo em mim.
Como já disse, às vezes sonho com teu amor,
mas isso é uma coisa tão impossível, tão distante,
que sofro ainda mais o triste amargor
de ter que viver essa realidade a cada instante.
Um amor impossível me traz essa ânsia
que faz reviver o meu peito deserto
por ele ser impossível é que amo à distância
quem eu não posso amar de perto...
Queria te dizer algo muito simples e bonito
para fazer você sentir toda força deste amor
que me consome a alma e que por ser infinito
e, mais, por não ter eco de ti, há de ser eterno na dor...
Mas eu sei aceitar o que precisa ser aceito
e por isso, e mais ainda por tanto te amar
é que muito te admiro, mas com respeito
à tua felicidade e à do teu par...
Sabe Deus o que faz e por isso
sei que a aliança em tua mão
é o símbolo de um compromisso
que me deixou preso à solidão...
Sei que amar não é nenhum pecado
quando realmente se ama com pureza
Só lamento que não se tenha completado
em nós um amor assim, de tamanha beleza...
Soneto polimétrico II
Há uma rosa escondida
no corpo de cada mulher
É uma flor de toda a vida
para o bem que se quer
Há um segredo na pele
uma certa magia na presença sua
um rigor de amar que mais se revela
no instante completo da realidade nua
Há um desejo no olhar,
uma quase incontida ânsia
que se prende por mais se guardar
e florescer ao longe, à distância
assim é o destino de amar:
um saber que é mais ignorânsia...
INTIMIDADE
Você vem, me queima de desejos,
depois, me joga água fria.
Não compreendo mais os teus beijos
e essa tua sensualidade vazia.
Essa inércia, esse fogo sem calor
que em mim consome a alma,
esse teu corpo vazio, sem amor,
que me faz perder a calma.
Tua boca convida ao prazer,
teu corpo é o mais infinito desejo,
mas você insiste em desfazer
todo o ímpeto que em teus olhos vejo.
Meu corpo arde de desejos pelo teu
e você alimenta esse fogo ainda mais,
insinuando que ele é todo meu,
mas fugindo depois, levando minha paz.
E assim vivemos esse amor
que somente me faz sofrer
pois você me provoca esse ardor
e depois me deixa sem te ter.
Mas não sei realmente
por que você foge assim.
Será que você não sente
esse fogo que arde em mim?...
Soneto polimétrico III
As flores continuam nuas, vivas no jardim
da casa ao lado de minha janela,
mas tristes, com a tristeza que há em mim,
apesar de toda a sua natureza tão bela.
Essas flores que enfeitam os olhos cansados
são as mesmas que antes alegres eu via
em momentos mais felizes, já passados
para trás, juntamente com minha alegria.
Armazéns do tempo são essas belas flores
que vêem passar tantas coisas diferentes,
perenes que elas são em suas vivas cores
Contemplando mudas a vida da gente,
os nossos amores, sofrimentos e dores
que nelas tão bem se fazem presentes...
TEMPO
É preciso que todas as pessoas
Dêem muito mais vida às emoções
E procurem temperar as suas ações
Com o sabor e o saber do sentimento,
Tendo sempre, como marco a lembrar,
Da preciosidade de cada momento,
A certeza de que esse instante
Nunca, jamais se repetirá...
Soneto polimétrico IV
Sou neto, filho, pai, avô e mais tudo
que o prazer pra ser assim me indique.
Sou feto, ilha, raiz e o amor mudo
que pelo mar em tormenta vai a pique.
Sou uma rima sem se ter, arma e escudo
da paz, para que contra a guerra brigue,
sustentando o ideal com que me iludo,
represando as águas do meu peito em dique.
Um verso de poema sem mérito algum
E toda a glória infinita de viver.
Sou a dualidade que existe em cada um,
o absurdo e o absoluto de se ter
tudo em nada e nada em tudo, em comum,
transcendendo as próprias fronteiras do ser.
JÓIAS
Os teus seios...
Quando os tenho comigo,
Deles me sirvo com ardor,
Eles são o perfeito abrigo
Para os meus beijos de amor...
Os teus seios...
Quando os aperto contra meu peito,
Sinto-os desejando as mais loucas carícias,
Buscando o carinho a que têm direito
E retribuindo muito mais em suas delicias.
Os teus seios...
Eles parecem ser alvos montes,
Escondidos, a desafiarem os meus desejos.
Os teus seios são as duas fontes
Onde sacio a sede com os meus beijos.
Os teus seios...
Parecem ser dois pássaros assustados,
Quando estremecem aos meus carinhos,
Dois pássaros querendo alçar vôos alucinados,
Mas presos, seguros em seus ninhos...
Os teus seios...
Obras perfeitas da maravilhosa natureza,
Marcos imponentes do prazer e do amor,
Personificação lasciva da tua beleza,
Coroada com dois rubis vivos do mais alto valor...
Soneto polimétrico V
Há noites em que se tornam mais distantes
as estrelas brilhantes do céu,
transformando-se em fel o que antes
era o doce sabor do mel.
Assim é com nossa vida, inconstantes
momentos de instantes vividos ao léu,
na esperança cruel de incessantes
dores, sempre errantes no amor fiel.
Então não há melhor esperança
que venha redimir esse sofrimento
pois ela própria não se alcança
e morre mil vezes num só momento,
vivendo numa única lembrança
toda a vida perdida do sentimento.
ACONTECIMENTO
Que surjam de todos os espaços
as rimas que jamais se tenham encontrado
Que este tempo esteja mais vivo agora
como nunca tenha estado
Que diante disto as palavras, verdes ou maduras,
percam todo o seu significado
Que o que era antes frente
passe a ser agora frente, verso, lado
Que esta certeza de ora
neste momento se tenha materializado
nas dobras do tempo, nas curvas do espaço
que te tenham distanciado
Que o que antes era futuro
no passado não tenha ficado
Que o que é agora presente
não tenha no futuro apenas um passado
Que não se perca a emoção
deste animal racionalizado
Que apareça no momento
o que nunca se tenha apresentado
Que o tempo tempere
o nosso espaço quebrado
Que a vida viva dentro
deste nosso momento parado
Que nada se reinicie
sem que haja completado
Que nada se acabe
sem que tenha iniciado
Que seja a saudade apenas
um pequeno momento isolado
Pois que dela trago no peito
um coração de amores marcado.
Soneto polimétrico VI
O chão é o meu céu, onde habito,
e nele está toda a minha verdade;
dele e nele é que se faz o momento altivo
e os instantes de mais insalubridade.
Não sou capaz de nenhum milagre
mas acho na vida o fantástico
doce do mel, mesmo no vinagre,
vivendo um viver pleonástico.
Buscando vencer o próprio desejo que não se esgota
a gente vai se perdendo na mesma história
que vai nos levando por um caminho sem rota.
A vitória... o que importa a vitória,
se ela é que nos leva mais à derrota
de se viver marginalizado na própria glória?...
RÉ - EVOLUÇÃO
O homem, animal racional,
trilhando seus caminhos,
trocou o bem pelo mal,
a florosa pelos espinhos.
O homem, em sua evolução,
tem corrido sem parar,
tem parado o coração,
tem deixado de amar.
O homem, senhor dos animais,
em seu constante progresso,
não sabe mais o que faz:
se continua ou inverte o processo...
Soneto polimétrico VII
Você é um amor impossível,
beleza demais para um só,
delícia de sabor incrível
que se faz encanto maior.
Carícia que se satisfaz
somente com mais desejo
e nua no ar se deixa em paz
no carinho de um beijo.
Você para mim é tudo,
porém, também o nada,
pois esse sentimento mudo
se perde pela estrada,
na distância em que me iludo,
só de saudades tuas, minha amada.
CANÇÃO ALEGRE
Eu te quero menina, eu te quero mulher,
eu te quero sina de todo bem que te quer...
Quero-te pura, quero-te pecadora,
de nada, obscura; de tudo, reveladora...
Dá-me da luz maravilhosa do teu olhar,
dá-me do teu segredo de amar...
Entrega-me tua alma no teu corpo de carinhos,
entrega-me o meu querer aprisionado em teus caminhos...
Traz-me felicidade, um pouco de alguma alegria qualquer,
traz-me o meu ser deus, sendo homem, amando uma mulher...
Soneto polimétrico VIII
Há tanto tempo meus olhos te querem ver
que já não têm outro qualquer pensamento,
mas a tua distância parece ainda mais crescer
assim que se passa em mim cada momento.
Não sei o que te deixou tão distante,
se o meu carinho sempre se fez sentir.
Penso em tua presença a todo instante,
Sem poder, desse passado de amor, fugir.
A saudade é um grito em minha alma,
preso, querendo chamar por ti, meu amor,
Um grito de aflição nessa distância calma,
impassível, indiferente a este sofrimento,
aumentando ainda mais a minha dor,
sem poder te dar do meu sentimento.
Paralelo
Há um deus em cada homem
e não serão os seus dessemelhantes,
na vã tentativa de que o domem,
que mudarão o que já era antes...
Soneto polimétrico IX
Ainda serei eterno, mesmo esperança,
ainda que tendo que me desfazer em nada,
pois o sonho de tudo que mais se alcança
são os passos deixados nessa estrada.
Ainda serei eterno, como uma criança
que se esqueceu do tempo e, abandonada,
perdeu-se nos caminhos de sua andança,
sem o desespero da distância a ser alcançada.
Ainda serei eterno, como o momento
que se deixa ser realidade e ilusão,
contemplando o íntimo instante do sentimento.
Ainda serei eterno, sem duração,
Como mistério entre espaços e tempo,
como a vida, em toda sua dimensão.
Soneto polimétrico X
Quantas maravilhas existem no mundo!...
Impossível fazer-se descontente ao pensar
no encanto todo desse veio profundo
que sempre mais se esconde pra se revelar.
É maravilhoso o encanto de cada coisa, tudo
parece resplandecer uma serena beleza
em segredo que mais se revela, mudo,
no íntimo sentimento da natureza.
Quem não sabe ouvir os passarinhos
cantando alegremente uma suave canção
nem vê a beleza rude dos caminhos
não vive o amor maior, sem dimensão,
ferido pelos próprios espinhos
ou mesmo: sequer tem coração...
Soneto polimétrico XI
Não sei quanto tempo se passará:
se um momento somente ou a eternidade,
até que você venha para apagar
a chama que me consome em saudade.
É preciso um pouco mais que esperança,
um amor de constante e viva presença,
acalentando não somente a lembrança,
mas vivendo sua própria crença.
É bom acreditar no futuro,
porém, melhor é viver o presente,
pois a vida é um modo puro
de dizer sim ao que se sente,
procurando eliminar o obscuro
para o amor brilhar dentro da gente.
Soneto polimétrico XII
Sozinho, eu sou tudo e nada,
o que se consome na solidão,
caminheiro perdido na estrada,
sem um rumo, sem direção.
Contigo, sou nada e tudo
o que se faça mais preciso,
se contemplo em beijo mudo
a beleza toda do teu sorriso.
Nada e tudo, tudo e nada...
É, sempre é assim:
dualidade digna de estudo,
pois nesse teu colo de fada
o mistério parece não ter fim
ou tu és o segredo de tudo...
Soneto polimétrico XIII
Preciso do teu amor loucamente,
como a água pro perdido no deserto,
mas espero o teu amor silente,
que vai tão longe pra chegar tão perto.
Esse teu amor, que é vã indiferença,
lutando para continuar a ser o que é.
Esse amor desencontrado, fé sem crença,
que insiste em se fazer desesperança, até...
Mas ele existe, se mente, bem sei disso,
mesmo que ainda distante, quase perdido,
flor morrente que deixou no fruto seu viço...
É uma realidade dentro do sonho pra ser vivido,
encontro no encanto de uma rima sem compromisso
senão a felicidade de um no outro ter acontecido.
Soneto polimétrico XIV
A vida é mesmo uma coisa engraçada:
algumas vezes, parece ser muito, tudo,
outras vezes, parecendo ser quase nada,
mistério infinito que mais se revela mudo.
A vida, um bem que nos faz tanto mal,
a beleza, sempre tão cheia de contradições,
um encontro perdido, encanto sem igual,
no sentimento único das grandes emoções.
Viver é mesmo uma coisa que passa e fica,
a eternidade de cada pequeno instante,
da pobreza de tudo do mundo a parte mais rica.
Viver, espectro tão próximo e distante,
ausência que mais se encaixa na vida,
em consciência emergente dum sonho delirante...
Soneto polimétrico XV
No interior deste meu peito
cursa um rio de sentimentos,
ora definhando, seco, em seu leito,
pela vazão de tantos sofrimentos.
Águas límpidas e cristalinas de outrora,
instante de única felicidade passado,
canícula ressecando emoções agora
que escorreu todo sentimento represado.
Rio que nasceu do teu sorriso
em meus olhos, menina dona do meu olhar,
fonte d’água preciosa, de que preciso
para viver feliz só em te amar,
no meu curso, destino de rio, onde diviso
mais adiante teu abraço de amor do mar
Soneto polimétrico XVI
Esse teu gesto que me falta e acalenta
é meu encanto, tormento e ainda mais,
parte de toda a idiossincrasia que me alimenta,
buscando a tormenta na impossível paz.
Esse teu gesto que me salva e sustenta
o próprio existir do universo tão fugaz,
esse teu gesto tem o gosto gasto de lenta
esperança se perdendo em partes desiguais.
Esse teu gesto, de possível intento
natural, por força de algum artifício
tem o meu querer guardado por dentro.
E por fora, fora somente um vício
se o teu impassível ser em vento
não me animasse tanto em tê-la tão difícil.
Soneto polimétrico XVII
Tu não sabes que passo noites em claro
por teu impossível amor, que jamais terei,
nem podes imaginar o quanto me é caro
ser ainda assim, como se fora escravo um rei.
Não me deves nada, nada posso nem quero cobrar-te
de assunto tão vário é melhor mesmo nem tratar,
mas de tua beleza me chega tanta arte
que sinto em mim nascer um poema singular.
Nem me conheces, ao menos o muito-pouco
que possa tentar por tal bem querer.
Ganho, perdendo-te de mim, pois sou louco,
Sim, mas louco de te desejar felicidades
sem o meu prazer, pois se é para te perder,
que te percas de mim para outra melhor realidade.
Soneto polimétrico XVIII
Para Laudelina
Você pensa que me conhece muito bem,
porque é uma boa pessoa, mas assim se ilude:
sou fragilmente humano, bom e ruim, pois também
tento ser pra você o que pra mim não pude.
Posso ser em alguns momentos uma doce ilusão
se realizando por completo, dentro da vida.
Em outros instantes, perco a própria razão
e a pura emoção também pode ser perdida.
Você é uma parte boa dentro de mim,
algo que me resta de feliz idade pra se viver,
uma saudade sã, que não tem mais fim.
Jamais poderia me perdoar se fizesse sofrer
a alguém que tanto quero bem assim,
por isso é que não posso estar com você.
Soneto polimétrico XIX
Eu, que vejo o sol brilhar todo dia,
sinto se passarem os momentos no tempo parado,
escorrendo instantes vivos de dor e alegria
no cansaço do sentimento renovado.
Se a busca das emoções não alivia
o espaço do instante feliz distanciado
bem mais fácil e cômodo seria
a alma a ninguém nunca ter amado.
Mas... quem sabe de nós mesmos,
assim, se somos tão inconstantes,
o nosso íntimo de amor ao vivermos?
Tão distante se apresenta o próprio sentido
que o que se mostra agora seria antes
uma ilusão futura desperdiçada no momento vivido...
Soneto polimétrico XX
Do meu canto de paz nasceu
todo um exercício de esperança,
pois a vida não se perdeu
no sorriso esquecido de uma criança...
Basta lembrar: mais que sobrevivência,
somos presença de eterna idade da vida.
Renovando-se cada momento em sua essência
jamais haverá felicidade perdida...
Há em cada átomo do universo um infinito
que frutifica das fronteiras do finito,
unindo tudo e todos em apenas um...
E assim nos ensina a natureza a cada dia:
desde o primeiro, nada morre, nada se cria;
em tudo transparece a unidade comum...
Soneto polimétrico XXI
A existência é parte resumida
de algo maior em dimensão e teor;
o finito e o sem fim: tudo é vida,
e em tudo transparece o seu valor...
Mesmo sofrimento ou alegria, o amor
é o que completa o viver em sua medida,
pois ainda que seja espinho de dura dor
é também eterna esperança, nunca perdida.
Mas como resistir ao próprio conflito
sempre em nosso íntimo presente
de que tudo se perde em nada no infinito?...
Viver é também só uma parte da diversidade
E o que desgasta mais o pensamento silente
É essa procura incessante pela unidade.
Soneto polimétrico XXII
A vida é apenas um só dia em eterna idade,
absoluto que se perde nas partes dispersas,
fragmentando em infinito a própria unidade,
na profusão caótica de suas coisas diversas.
A manhã que nasce é a infância,
cheia de vigor, luz, ilusões e alegria.
A tarde se adultera, perdendo a magia,
anoitecendo a velhice em tão pouca distância.
A vida é apenas um pequeno instante,
maior que tudo mais o que possa haver,
mesmo que se transporte a dimensão distante.
A vida se completa no incompleto do viver,
inconstância que se faz constante,
renovando sempre mais o próprio prazer...
Soneto polimétrico XXIII
Sempre sonho contigo à distância
e não consigo deixar esta ilusão,
o desejo incontido, a louca ânsia
de te sentir bem junto do coração.
Mas, por mais que tente, é amor em vão,
perdido nos espaços, em vil vacância,
despedaçando-se ao viver num sim o não
que se faz em cada momento de relutância,
renitência ao sabor de saber amar,
sentir o gosto do gozo do amor,
o beijo do cerne na carne em par,
o perfume por fome da flor,
o encanto do encontro em se dar
à beleza, à magia invisível dessa cor...
Soneto polimétrico XXIV
Eu preciso de você, do teu amor e carinho,
pois sem você eu não sei mais nem viver;
você é o meu destino, a luz do meu caminho,
que ilumina tudo em mim, como novo alvorecer.
Você não pode ignorar ou fingir-se distante,
se a tua própria vida também passa por mim;
passa não só por passar e ir adiante,
mas porque nos completamos no mesmo fim.
Fim não de destruição, o nada final:
fim de afinidade, coesão, convergência
que se completa na eternidade do inicial.
Sim, inicio de meio infinito em emergência,
na simplicidade desse amor, cerne, carne e sal
temperando a vida com o gosto da existência.
Soneto polimétrico XXV
O que há de mais profundo na vida?
Impossível não acreditar que tudo é possível,
se o pensamento traduz a parte perdida
de se encontrar na verdade algo incrível.
Qual é o melhor caminho
para sempre se chegar a si?...
Opção entre ser e estar sozinho
ou consumir-se na multidão do “vivi”...
E a vida espera o seu juízo
encancerada na prisão do pensamento,
que vive indeciso se é ou não preciso
um pouco de sonho a mais, liberdade,
o arbítrio sem arbítrio desse sentimento
para transformar a real em felicidade...
Soneto polimétrico XXVI
Há momentos em que sinto dentro de mim
toda a alegria e beleza da vida.
Já em outros instantes, não é bem assim
e a felicidade parece ser ilusão perdida.
Talvez seja assim mesmo a existência:
uma mistura de sabores os mais diversos,
que deixam em tudo um pouco de sua essência,
como a humilde poeira que morre nesses versos.
Pensando sempre o além, em eterna ânsia,
meu olhar no horizonte se completa,
como se amasse o espaço vazio da distância,
pois vive dentro de minha alma inquieta
o sabor do saber e da ignorância,
como se um dia eu viesse a ser poeta.
Soneto polimétrico XXVII
Eu fico pensando comigo mesmo:
esse instante é somente meu,
e enquanto o registro para além,
meu pensamento vai ao futuro:
Quem saberá dele, mais adiante,
quando apenas restar sua lembrança?
Quem tentará imaginar nesse momento,
o que se passa em mim, no meu viver?
Se é noite ou se é dia,
se chove ou se faz sol,
se é manhã, cedo ou tarde?
Se há flores nos jardins
e olhos para vê-las, sorrindo...
Se, ao menos, uma esperança de amanhã?...
Soneto polimétrico XXVIII
O mais belo poema, o mais brilhante,
inédito, ainda está por ser feito.
Trago em mim essa sensação angustiante
de ter que tomá-lo em partes ao meu peito.
Minha alma vive em angústia constante
e por mais que tente qualquer jeito,
se passa em segredo mudo esse instante,
sem bem poder traduzi-lo direito.
E continuo então devendo
o que ainda mais devo a mim
e a todos que a este estão lendo.
Porém, mesmo faltando palavras assim,
vou continuar sempre escrevendo,
para me completar neste fim...
Soneto polimétrico XXIX
Há crianças vagando nas ruas
e pais preocupados no serviço.
Há verdades que se escondem, nuas,
e pouca gente se importando com isso...
Há ainda um pouco de sossego,
enquanto não se confirma o perigo.
Há um que se preocupa com o emprego
e outro que só pe(r)de um amigo.
Há um mundo inteiro lá fora
e eu aqui, vendo tudo, fiado, na televisão,
como se não pudesse fazer nada, agora.
Há uma realidade de concreto e ilusão.
Mas há também uma saudade lembrando de outrora,
quando existia sentimento de vida no coração...
Soneto polimétrico XXX
A vida é um instante em eternidade,
é uma procura em si que mais se perde,
o tal caminho para uma feliz idade
e, talvez, disso tudo, só a caminhada se herde
de todo o esforço em se prosseguir,
sempre em frente, sempre avante,
sem desânimo, mesmo ao se cair,
pois o destino é sempre mais adiante.
A vida não é um instante apenas
das horas de prazer nenhum
ou das horas tranqüilas, serenas...
É o encanto maior em comum,
o infinito das coisinhas pequenas
e o tudo que há em cada um.
Soneto polimétrico XXXI
Meu amor é um poder sem domínio,
um encanto desencantado, que persiste
na magia da saudade e seu fascínio,
onde um mundo vão de esperanças existe.
Meu amor para ti é nada.
Teu amor para mim é tudo.
E mesmo em tua presença calada,
fala o meu sentimento mudo.
Se viver é amar,
então, tu não vives,
pois vivo eu a te adorar
e tu apenas sobrevives,
na própria indiferença de não deixar
os teus amores livres.
Soneto polimétrico XXXII
Tenho olhos que me dão o mundo
e tiram de mim toda esperança de viver.
Tenho o honrado nome de vagabundo,
pois da utilidade nada mais nos resta ser....
Tenho fontes de energia imensas dentro de mim
e me gasto vivendo os outros tanto assim.
Procuro o que está distante de se alcançar,
pra não mais viver o momento de chegar.
Calo quando não há motivo para calar.
Falo quando o som se perde em sua loucura.
E me deixo em tudo, sem nunca estar,
escutando a palavra vã, que apenas murmura
o som calado das coisas deste universo par
de um outro mundo onde se perde a procura...
Soneto polimétrico XXXIII
O amor está para a mulher
assim como esta para o homem
é o perfume da flor que se quer
e que na beleza se consome.
No amor não há mais que fome
a se alimentar de um desejo qualquer,
no gozo do gosto. De resto, sem nome,
a vida é sempre perdida, como se fizer.
O amor é muito e pouco
é precipício, seio e fim,
transcendência de um gemido rouco
que se espalha no ar assim
como o infinito desse instante louco,
o presente de um ao outro, em “sim”...
Soneto polimétrico XXXIV
Se um dia eu puder te encontrar,
que não seja muito tarde, meu amor,
pois se esse encontro não chegar,
serei eterno prisioneiro na dor.
Há muito tempo que te espero,
já nem sei mais quanto sofri,
pois o muito que te quero
é tudo porque assim vivi.
Vamos, vem ao meu encontro, pois tanto
espero ouvir de teus lábios o “sim”
que me fará esquecer todo o pranto.
Não negues a tua beleza pra mim,
pois se ainda me faltar esse encanto
o infinito terá o seu fim...
Soneto polimétrico XXXV
A maior das violências é não amar,
guardar o coração fechado, indiferente,
totalmente inacessível a um olhar,
à beleza de se revelar o que se sente.
Não amar é destruir por omissão,
construindo-se um muro entre as pessoas
que, assim, isoladas, em sua solidão,
perdem mil e uma coisas boas.
É preciso um pouco-muito de carinho,
a confiança de todos em cada
para que se reencontre o caminho
que leva ao destino dessa estrada,
mesmo com toda pedra, poeira e espinho,
pois só assim a felicidade será alcançada.
Soneto polimétrico XXXVI
Por que te esquivas dos meus desejos,
se eles mal algum haverão de te fazer?
Por que foges assim, arisca, aos meus beijos,
se eles são o teu próprio e íntimo querer?
Por que enganas a ti mesma, dizendo “não”,
se o sentimento em teus olhos diz “sim”?
Por que maltratas tanto o meu coração,
se o teu próprio desejo está em mim?
O que te faz tão próxima e ausente,
na minha terna ânsia das tuas sensações,
vivenciando calado o sentimento presente?
Quem sabe dos mistérios a sua cor,
saberá descrever o que se passa nas emoções,
o mágico colorido invisível desse teu amor?...
Soneto polimétrico XXXVII
Invejo o sol que todo dia te beija o rosto,
abraçando, deliciando também as tuas formas perfeitas,
mas ainda mais invejo o tão sublime gosto
de quem te sente no leito onde te deitas.
Se o mundo é um desencontro de amores,
bem melhor seria para mim não mais te amar,
mas como resistir, se encontro até nas flores
esse sentimento ainda mais forte, a te desejar?
Amor, paradoxal caminho de dúvidas e respostas
que sempre se consomem sem a nada responderem,
deixando mais próximo-distantes as emoções opostas.
Amor, emoção que frutifica um novo momento
sempre que as sensações que se encontram viverem
a se amar dentro do mesmo e único sentimento.
Soneto polimétrico XXXVIII
Como são perfeitas as formas do teu corpo:
as tuas curvas, em suaves contornos,
parecem ter em teus seios maduros
taças de vinho inebriante como adornos.
Todo teu espaço é perfeição harmonizada,
dos mais altos cumes ao mais profundo vale,
emoção viva, nos meus sentidos vivenciada
pelos desejos, em sentimento admirado.
Como pode haver tão natural perfeição
a encantar meus olhos, todos os sentidos
extáticos a iludirem o pobre coração
na imagem dos teus carinhos possuídos
pela intimidade total de realização
a te amar nos meus sonhos tão vividos?
Soneto polimétrico XXXIX
O teu corpo, delírio do meu pensamento,
fonte de prazer e ilusão de amor.
O teu corpo, para mim, é vida e tormento,
mas também felicidade, disfarçada em dor.
Quisera eu tê-lo comigo, em tais anseios
de conquistá-lo com o fogo de meus desejos
e sentindo a volúpia divina em teus seios,
acender-lhes mais a chama de vida com mil beijos.
O teu corpo, mistério de encantos tamanhos,
maiores que o pensamento pode querer ao desejar.
No teu ventre uma vida de sonhos estranhos
me faz sentir um felicidade única, singular.
Tudo em ti, seios doces, lábios, olhos castanhos,
mesmo na ilusão me falam da beleza de amar...
Soneto polimétrico XL
Para o meu pai, Luiz Gonzaga Fernandes Carvalho, por escolha dele mesmo
Se cada pessoa vivesse o amor,
a felicidade seria de todos,
pois a alegria iria estar
no gesto fraterno, de sentimento
verdadeiramente vindo do coração,
íntimo da liberdade ao viver
em cada coisa, no olhar sincero e amigo,
um instante maior de união total.
Apenas se faz necessário crer,
ter esperança no coração humano,
centro, às vezes, confuso, das emoções vividas.
É com esperança e muito amor
que o mundo se fará realmente melhor,
na paz de cada um, na paz de todos...
Soneto polimétrico XLI
Quantos sonhos destruídos!... Desamor e egoísmo
margeiam a estrada da vida neste mundo cruel...
Quantos passos se perderam, em profundo abismo,
mesmo sempre procurando alcançar o céu.
Não é desencanto o real tormento da alma
que se constrange em viver tão dualistamente,
perdida entre o gritar e o sofrer calma
todas as tempestades da melhor sorte ausente.
Mas quem há de parar no meio do caminho
para retornar a um outro princípio de tudo,
se assim bem o pudesse fazer, sozinho?
Medo, dúvidas, incertezas... tudo vaga n’alma humana
que interroga ao seu destino, cego, surdo e mudo,
o quanto ainda vale a sua verdade insana...
Soneto polimétrico XLII
Felicidade... Como dizer o que ela é?
Não a sei eufórica ou se alma tranqüila.
Ou serão as duas coisas, temperadas pela fé?
Na verdade, não sei dizer, somente senti-la...
E o que ela traz, o que ela deixa?
Isso é muito fácil de descrever:
Dela tenho paz, nenhuma queixa
do que por ela foi antes sofrer.
Talvez recompensa de quem sabe esperar,
de quem também pensa nos ausentes,
pois o amor não se limita por tempo nem distância
e do amor é que nasce fruto singular,
pequenas coisas que em suas sementes
transformam em realidade essa eterna ânsia...
Soneto polimétrico XLIII
Ao descer o manto negro da noite fria,
quem esquece o brilho de tantas mil estrelas
não sabe viver em si toda a plena alegria
nem capta dos olhos o mágico segredo em vê-las.
Todo crepúsculo, assim como a aurora inicial,
é luz vagando em busca de quem a veja
e nunca deixa fluir escuridão total,
dando às estrelas o brilho que esperanças enseja.
A existência é todo momento de trevas ou luz
em que mais a esperança sobrevive,
sorrindo alegrias ou sofrendo em sua cruz,
pois a vida é como o sol no horizonte distante:
nascendo ou se pondo aos olhos de quem a vive,
assim é que se faz seu sentido em cada instante...
Soneto polimétrico XLIV
América, soy loco por ti, de amores,
Ainda que sem a guerrilha do povo
E com a mesmice de outras flores,
Mais vale sonhar teu sonho sempre novo
América, soy loco por ti, de amores,
É tua a vida em que me movo
Por entre tons de várias cores,
Mas todas saídas do mesmo ovo.
América, de amores, soy loco por ti,
Pelos longos quinhentos anos
Da curta resistência que vivi.
América, por ti, soy loco de amores,
E por todos los hermanos
Que repartem alegrias e dores.
Soneto polimétrico XLV
Tantas vidas se cruzam em algum momento
E depois simplesmente se esvaem, perdem-se
Deixando ainda mais ferido um resto de sentimento
Por tudo do nada que nos pertence.
Um gosto desgastado pela sempre eterna perda,
Doce delícia de um vício amargo, viver
É toda a falta de fé presente na certeza
De que todos os caminhos nos trazem sofrer.
Uma pedra na mão carrasca do tempo
Arremessada contra os espaços da nossa vida,
O nosso próprio fim, destruição é o que somos
Da eterna idade de viver não há nenhum contento
Nem remédio algum pra curar essa ferida
De nunca mais ter mas sermos sempre a felicidade que já fomos...
Soneto polimétrico XLVI
Guarda-se dentro da gente
Mesmo sem o conhecimento
E pode se revelar de repente
Na força viva do sentimento
Infinito é o seu momento
Eterna vida que se sente
Brotar do instante lento
Passado e futuro no presente
Efêmera eternidade do muito viver
Eterno sentir de dor e alegria
Brindando ao segredo que se possa conter
No íntimo de tudo, em realidade ou fantasia.
Ganhar que se completa mais em se perder
Tendo tudo e sendo mudo querer: Poesia!...
Soneto polimétrico XLVII
A vida se perde, vivida ou não,
Pelos espaços do mundo, no tempo
Em que a existência da razão
Ou do sentimento morre por dentro
E não adianta nem mesmo a emoção
Tentando retornar o bom momento
Se tudo e nada sempre são
Duas faces da mesma moeda: mudar lento...
O contínuo fluir das coisas e seres
Sustenta a vida com a morte
E faz o ciclo dos poderes
Na alternância de cada sorte
Está o saber de todos os saberes:
Da fraqueza é que nasce o mais forte...
Soneto polimétrico XLVIII
O amor é mais uma loucura
Que mata a vida em cada instante
Um mal que não tem cura
Deixando todo bem distante
Tempestade, calma que nos atormenta
Roubando a paz de cada gesto
No nada de tudo o que se tenta:
Vitória perdida é o seu resto.
Algo que se perde da gente
Dentro de nós mesmos e, por fim,
Resgata no viver a dor que se sente
Sempre em todo momento premente
Enquanto vivemos o presente
Do que não há em sim...
Se os olhos que vêem um sorriso
Pudessem penetrar até o coração
Saberiam que muitas vezes um riso
Procura disfarçar uma aflição
Assim também é o estado conciso
Imagem vaga, cheia de ilusão,
Mostrando que sempre é preciso
Ver além da própria interpretação
Às vezes, os olhos mentem sem querer
Pois não captam mais do que se pode ver
E para eles felicidade é sempre distante:
Um pôr-do-sol na paisagem da janela...
Porém, esquecem-se que, nesse instante,
Nós é que estamos longe dela...
Soneto L
para o meu pai,
Luiz Gonzaga Fernandes Carvalho
11011011110101110111011001001101111
00000001101101111010111001001101111
00000001110100111010111001001101111
11001101110101110111011001001101111
00000000000000000000000000000000000
11001101110101110111011001001101111
00000001110100111010111001001101111
00000001101101111010111001001101111
11011011110101110111011001001101111
00000000000000000000000000000000000
00000001101101111010111001001101111
11011011110101110111011001001101111
00000001101101111010111001001101111
00000000000000000000000000000000000
11001101110101110111011001001101111
00000001110100111010111001001101111
11001101110101110111011001001101111
______________________________________________
1101101 = m
1110101 = u
1101110 = n
1100100 = d
1101111 = o
1110100 = t
1100110 = f
--------------------------------------------------------------
Este poema foi dedicado inicialmente ao meu pai, Luiz Gonzaga Fernandes Carvalho (técnico em eletrônica), no livreto artesanal Tempoçapse (2004/2005). Posteriormente, em inícios de 2007, constou com o título "Soneto cibernético III", e sem dedicatória, na minha participação no livro conjunto "Escritos Et O breve verbo", por pensar em dedicar um outro poema ao meu pai, já que este, apesar da profissão (se bem que já aposentado), não se mostra muito íntimo de computadores e informática. A "tradução" do "soneto", para quem não quer ter o trabalho de decodificar através da legenda (chave de código) é a seguinte:
Mundo
Mudo
Tudo
Fundo
Fundo
Tudo
Mudo
Mundo
Mudo
Mundo
Mudo
Fundo
Tudo
Fundo
...
SONETO PARA TERESINA
Atrás da sempre esquiva harmonia
Mais e mais buscamos querido bem
Que nos devolva toda alegria
Da vida que vive por nós também
E pelo mundo se faz sintonia
Do amor que a todos nós vivos mantém
No alento de tão bela companhia
Que é ter junto quem nos faz ser alguém
Buscar-te é descobrir nova verdade
Nos doces olhos verdes da menina
Que sempre trazem felicidade
Pois esse tal bem-querer mais ensina
O muito amar a toda humanidade
Só porque nós te amamos, Teresina.
SEGUNDO SONETO PARA TERESINA
Cento e cinqüenta e seis anos de vida
Sempre se mantendo bonita e jovem
Para que eternamente se renovem
Os laços que te fazem mui querida
Tuas alegres belezas nos comovem
Fazendo feliz nossa dura lida
Na busca de uma certeza florida
Para os novos tempos que se promovem
Certeza de que és como o bom vinho
Ou melhor: como a doce cajuína
Que o tempo torna perfeito carinho
Quanto mais se faz de eterna menina
Num sonho que não se sonha sozinho
Mas com todos que te amam, Teresina