Cláudio Carvalho Fernandes
"A existência precede a essência"
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Textos

 

 

Minha participação no livro "2 Colibris e Uma Flor", em parceria com o saudoso Poeta Popular Zé Bezerra, o "Águia de Prata"                         

 

 

 

 

 

 

jus

para a beleza

 

 

de todos os meus desejos

apenas este, mais nenhum:

gastar todos os meus beijos

pra te dar ao menos um!...

 

 

 

 

 

 

tudo

para minha amiga Mara

 

 

você é um poema da natureza

dizendo que a vida vale o enquanto

durar o vir ver a tua beleza

no infinito instante deste encanto

 

 

 

 

 

outra “fábula moderna” ou “a modernidade revisitada”

 

 

musamada passeava pelos campos em alegria

quando confusa abelha pica-lhe o peito

pensando ser, talvez, uma outra flor que havia

desabrochado no ar, por algum mágico efeito

 

Eu”, atento fauno, de plantão, todo insuspeito,

apressa-se em aliviar a dor que a crucia,

com muito remédio, da mesma abelha, de mel feito,

para uma das flores irmanadas em harmonia...

 

e menos de se esperar não seria

vir, de uma flor para outra flor,

ver o bálsamo para crua agonia:

 

por enquanto, de bom, o mel lambe-lhe a dor

e, lambendo sua nua forma, o mau desejo (se) alivia

(d)a profunda picada no peito que lhe deu Amor...

 

 

 

esperando a morte

 

 

da complexidade dos sentimentos e emoções

não há nada tão certo sobre a terra

quanto aquilo que menos supões:

o amor é mais difícil do que a guerra!...

 

 

carne

 

 

a tarde pública se guarda em metralhadoras

gasta-se a vida no hermetismo da rosa

flor que ronda as manhãs conquistadoras

de mais noites despetaladas em sua rota

 

 

 

 

 

 

quarto

quadro

quatro

 

o que importa é o gado:

importa a fome massificada

em alimento logo preparado

nesses pastos de mais nada

 

gado enganado e engordado

com o pó da vida minguada

remarcado e feliz esse gado

exporta a força da boiada

 

gado descuidado, embriagado gado

pelo verde e a água da chuvarada

em seu couro, pelo sol salgado,

o viver se curte na vida parada

 

o que em parte é o gado

comporta a forma nulificada

sem a(u)limento: o só arrebanhado

desde o mato até menos cada

 

 

 

negócio

 

 

a morte industrializada

sob o rótulo “VIDA”

abastece em cada rês

a existência perdida

 

 

 

 

 

amórica

 

 

américa, soy loco por ti, de amores,

mesmo sem a guerrilha do povo

e com a mesmice de outras flores

mais vale sonhar o teu sonho sempre novo.

 

américa, soy loco por ti, de amores,

é tua a vida em que me movo

por entre tons de várias cores

mas todas saídas de próprio ovo.

 

américa, de amores, soy loco por ti,

pelos longos quinhentos anos

de curtir a rexistência que vivi.

 

américa, por ti, soy loco de amores,

e por todos los hermanos

que repartem alegrias e dores.

 

 

prima quae vitam dedit hora carpit”

 

O amor na vida se apresenta

para alguns como chama calma

para outros como vã tormenta

que só desgosta mais a alma

 

Sentimento de cargas opostas

que desgastam toda resistência

por vezes sem mostrar respostas

apesar de toda uma existência

 

Para alguns é a própria vida

para outros a própria morte

emoção da razão dividida

sem ter rumo sul ou norte

 

Amor

Cantiga alegre ou triste

sombras claras ou furtivas

de algo que somente existe

em almas mortas e vivas...

 

drama

 

 

minha paixão é bela

e, tristemente, assim:

eu não vivo sem ela,

ela vive sem mim...

 

 

 

de tudo o que se leva adiante

para o poeta popular Zé Bezerra

 

Que não se tema o caminho

Nem a ânsia da procura

Pois somente o carinho

Já é muito de ventura

 

 

 

Beserol

 

 

 

A vida em si acaba contendo

Um dilema bem difícil de tratar:

Ou se vive amando, e sofrendo,

Ou se sofre então, por não amar...

 

 

 

 

 

Disfarce

 

A beleza é o disfarce

Da ignorância para que

A paixão possa expressar-se

Como vida do vir ver...

 

SAUDADE

 

Saudade,

Fantasma da presença,

Distância que é quase nada

Para a pessoa que pensa

Na outra pessoa amada...

Saudade,

Encontro na distância,

Num único pensamento:

Duas vidas nessa ânsia

De viverem o mesmo momento...

Saudade,

Espaços vagando no tempo, na vida,

Futuro presente de um passado

Vivenciando a lembrança da presença querida

Em um encontro distanciado.

Saudade,

É algo para se pensar:

Como viver essa realidade

Se, de tanto e tanto amar,

Se ultrapassa a felicidade?...

 

 

Soneto polimétrico I

 

 

É preciso um pouco de carinho

mesmo com todos os perigos

pois em se abandonando o caminho

não se chega jamais aos destinos contíguos

 

É preciso um pouco-muito de confiança

e mais de vida na vida em flor

para que ainda exista esperança

num mundo fechado para o amor

 

É preciso que ainda se encontrem

no carinho um homem e uma mulher

para que nesse encontro se encantem

 

e façam renascer num gesto de fé

tanto amor quanto existia ontem

para a vida reviver, como se quer...

 

 

 

 

 

 

POEMA A UMA SENHORA

 

 

Existe um grito calado em meu peito

ecoando em minha alma pela tua distância

Se fosses minha não sei bem se seria direito

mas ao menos em mim mataria essa ânsia

 

Esse desejo louco que é minha vida

querendo fazer da tua vida feliz.

Porém, nem posso chamar-te de querida

pois assim o meu mau destino o quis

 

Às vezes a ilusão me adormece

e eu sonho contigo num amor sem fim,

mas logo me vem acordar a distância que cresce

sempre a te afastar mais e mais de mim.

 

E então eu me pergunto, desiludido e tristonho,

por que mereci tão triste caminho?

Será que o amor é apenas um sonho

que com o tempo se transforma em espinho?...

 

E ainda pergunto a mim somente

por que tanto sofrimento a quem tanto ama

e por que amar a quem nos é indiferente

se não há combustível para essa chama?...

 

Mas eu ainda me culpo por não saber te dar

a exata dimensão deste amor sem fim

Só posso mesmo dizer que te amar

é o que há de melhor e mais belo em mim.

 

Como já disse, às vezes sonho com teu amor,

mas isso é uma coisa tão impossível, tão distante,

que sofro ainda mais o triste amargor

de ter que viver essa realidade a cada instante.

 

Um amor impossível me traz essa ânsia

que faz reviver o meu peito deserto

por ele ser impossível é que amo à distância

quem eu não posso amar de perto...

 

Queria te dizer algo muito simples e bonito

para fazer você sentir toda força deste amor

que me consome a alma e que por ser infinito

e, mais, por não ter eco de ti, há de ser eterno na dor...

 

Mas eu sei aceitar o que precisa ser aceito

e por isso, e mais ainda por tanto te amar

é que muito te admiro, mas com respeito

à tua felicidade e à do teu par...

 

Sabe Deus o que faz e por isso

sei que a aliança em tua mão

é o símbolo de um compromisso

que me deixou preso à solidão...

 

Sei que amar não é nenhum pecado

quando realmente se ama com pureza

Só lamento que não se tenha completado

em nós um amor assim, de tamanha beleza...

 

 

Soneto polimétrico II

 

 

Há uma rosa escondida

no corpo de cada mulher

É uma flor de toda a vida

para o bem que se quer

 

Há um segredo na pele

uma certa magia na presença sua

um rigor de amar que mais se revela

no instante completo da realidade nua

 

Há um desejo no olhar,

uma quase incontida ânsia

que se prende por mais se guardar

 

e florescer ao longe, à distância

assim é o destino de amar:

um saber que é mais ignorânsia...

 

 

 

INTIMIDADE

 

 

Você vem, me queima de desejos,

depois, me joga água fria.

Não compreendo mais os teus beijos

e essa tua sensualidade vazia.

 

Essa inércia, esse fogo sem calor

que em mim consome a alma,

esse teu corpo vazio, sem amor,

que me faz perder a calma.

 

Tua boca convida ao prazer,

teu corpo é o mais infinito desejo,

mas você insiste em desfazer

todo o ímpeto que em teus olhos vejo.

 

Meu corpo arde de desejos pelo teu

e você alimenta esse fogo ainda mais,

insinuando que ele é todo meu,

mas fugindo depois, levando minha paz.

 

E assim vivemos esse amor

que somente me faz sofrer

pois você me provoca esse ardor

e depois me deixa sem te ter.

 

Mas não sei realmente

por que você foge assim.

Será que você não sente

esse fogo que arde em mim?...

 

 

 

Soneto polimétrico III

 

 

As flores continuam nuas, vivas no jardim

da casa ao lado de minha janela,

mas tristes, com a tristeza que há em mim,

apesar de toda a sua natureza tão bela.

 

Essas flores que enfeitam os olhos cansados

são as mesmas que antes alegres eu via

em momentos mais felizes, já passados

para trás, juntamente com minha alegria.

 

Armazéns do tempo são essas belas flores

que vêem passar tantas coisas diferentes,

perenes que elas são em suas vivas cores

 

Contemplando mudas a vida da gente,

os nossos amores, sofrimentos e dores

que nelas tão bem se fazem presentes...

 

 

TEMPO

 

 

É preciso que todas as pessoas

Dêem muito mais vida às emoções

E procurem temperar as suas ações

Com o sabor e o saber do sentimento,

Tendo sempre, como marco a lembrar,

Da preciosidade de cada momento,

A certeza de que esse instante

Nunca, jamais se repetirá...

 

 

Soneto polimétrico IV

 

 

Sou neto, filho, pai, avô e mais tudo

que o prazer pra ser assim me indique.

Sou feto, ilha, raiz e o amor mudo

que pelo mar em tormenta vai a pique.

 

Sou uma rima sem se ter, arma e escudo

da paz, para que contra a guerra brigue,

sustentando o ideal com que me iludo,

represando as águas do meu peito em dique.

 

Um verso de poema sem mérito algum

E toda a glória infinita de viver.

Sou a dualidade que existe em cada um,

 

o absurdo e o absoluto de se ter

tudo em nada e nada em tudo, em comum,

transcendendo as próprias fronteiras do ser.

 

 

JÓIAS

 

 

Os teus seios...

Quando os tenho comigo,

Deles me sirvo com ardor,

Eles são o perfeito abrigo

Para os meus beijos de amor...

 

Os teus seios...

Quando os aperto contra meu peito,

Sinto-os desejando as mais loucas carícias,

Buscando o carinho a que têm direito

E retribuindo muito mais em suas delicias.

 

Os teus seios...

Eles parecem ser alvos montes,

Escondidos, a desafiarem os meus desejos.

Os teus seios são as duas fontes

Onde sacio a sede com os meus beijos.

 

Os teus seios...

Parecem ser dois pássaros assustados,

Quando estremecem aos meus carinhos,

Dois pássaros querendo alçar vôos alucinados,

Mas presos, seguros em seus ninhos...

 

Os teus seios...

Obras perfeitas da maravilhosa natureza,

Marcos imponentes do prazer e do amor,

Personificação lasciva da tua beleza,

Coroada com dois rubis vivos do mais alto valor...

 

 

Soneto polimétrico V

 

 

Há noites em que se tornam mais distantes

as estrelas brilhantes do céu,

transformando-se em fel o que antes

era o doce sabor do mel.

 

Assim é com nossa vida, inconstantes

momentos de instantes vividos ao léu,

na esperança cruel de incessantes

dores, sempre errantes no amor fiel.

 

Então não há melhor esperança

que venha redimir esse sofrimento

pois ela própria não se alcança

 

e morre mil vezes num só momento,

vivendo numa única lembrança

toda a vida perdida do sentimento.

 

 

 

ACONTECIMENTO

 

 

Que surjam de todos os espaços

as rimas que jamais se tenham encontrado

Que este tempo esteja mais vivo agora

como nunca tenha estado

Que diante disto as palavras, verdes ou maduras,

percam todo o seu significado

Que o que era antes frente

passe a ser agora frente, verso, lado

Que esta certeza de ora

neste momento se tenha materializado

nas dobras do tempo, nas curvas do espaço

que te tenham distanciado

Que o que antes era futuro

no passado não tenha ficado

Que o que é agora presente

não tenha no futuro apenas um passado

Que não se perca a emoção

deste animal racionalizado

Que apareça no momento

o que nunca se tenha apresentado

Que o tempo tempere

o nosso espaço quebrado

Que a vida viva dentro

deste nosso momento parado

Que nada se reinicie

sem que haja completado

Que nada se acabe

sem que tenha iniciado

Que seja a saudade apenas

um pequeno momento isolado

Pois que dela trago no peito

um coração de amores marcado.

 

 

Soneto polimétrico VI

 

 

O chão é o meu céu, onde habito,

e nele está toda a minha verdade;

dele e nele é que se faz o momento altivo

e os instantes de mais insalubridade.

 

Não sou capaz de nenhum milagre

mas acho na vida o fantástico

doce do mel, mesmo no vinagre,

vivendo um viver pleonástico.

 

Buscando vencer o próprio desejo que não se esgota

a gente vai se perdendo na mesma história

que vai nos levando por um caminho sem rota.

 

A vitória... o que importa a vitória,

se ela é que nos leva mais à derrota

de se viver marginalizado na própria glória?...

 

 

 

RÉ - EVOLUÇÃO

 

 

O homem, animal racional,

trilhando seus caminhos,

trocou o bem pelo mal,

a florosa pelos espinhos.

 

O homem, em sua evolução,

tem corrido sem parar,

tem parado o coração,

tem deixado de amar.

 

O homem, senhor dos animais,

em seu constante progresso,

não sabe mais o que faz:

se continua ou inverte o processo...

 

Soneto polimétrico VII

 

 

Você é um amor impossível,

beleza demais para um só,

delícia de sabor incrível

que se faz encanto maior.

 

Carícia que se satisfaz

somente com mais desejo

e nua no ar se deixa em paz

no carinho de um beijo.

 

Você para mim é tudo,

porém, também o nada,

pois esse sentimento mudo

 

se perde pela estrada,

na distância em que me iludo,

só de saudades tuas, minha amada.

 

CANÇÃO ALEGRE

 

Eu te quero menina, eu te quero mulher,

eu te quero sina de todo bem que te quer...

Quero-te pura, quero-te pecadora,

de nada, obscura; de tudo, reveladora...

Dá-me da luz maravilhosa do teu olhar,

dá-me do teu segredo de amar...

Entrega-me tua alma no teu corpo de carinhos,

entrega-me o meu querer aprisionado em teus caminhos...

Traz-me felicidade, um pouco de alguma alegria qualquer,

traz-me o meu ser deus, sendo homem, amando uma mulher...

 

Soneto polimétrico VIII

 

 

Há tanto tempo meus olhos te querem ver

que já não têm outro qualquer pensamento,

mas a tua distância parece ainda mais crescer

assim que se passa em mim cada momento.

 

Não sei o que te deixou tão distante,

se o meu carinho sempre se fez sentir.

Penso em tua presença a todo instante,

Sem poder, desse passado de amor, fugir.

 

A saudade é um grito em minha alma,

preso, querendo chamar por ti, meu amor,

Um grito de aflição nessa distância calma,

 

impassível, indiferente a este sofrimento,

aumentando ainda mais a minha dor,

sem poder te dar do meu sentimento.

 

 

 

Paralelo

 

 

Há um deus em cada homem

e não serão os seus dessemelhantes,

na vã tentativa de que o domem,

que mudarão o que já era antes...

 

 

 

Soneto polimétrico IX

 

 

Ainda serei eterno, mesmo esperança,

ainda que tendo que me desfazer em nada,

pois o sonho de tudo que mais se alcança

são os passos deixados nessa estrada.

 

Ainda serei eterno, como uma criança

que se esqueceu do tempo e, abandonada,

perdeu-se nos caminhos de sua andança,

sem o desespero da distância a ser alcançada.

 

Ainda serei eterno, como o momento

que se deixa ser realidade e ilusão,

contemplando o íntimo instante do sentimento.

 

Ainda serei eterno, sem duração,

Como mistério entre espaços e tempo,

como a vida, em toda sua dimensão.

 

 

Soneto polimétrico X

 

 

Quantas maravilhas existem no mundo!...

Impossível fazer-se descontente ao pensar

no encanto todo desse veio profundo

que sempre mais se esconde pra se revelar.

 

É maravilhoso o encanto de cada coisa, tudo

parece resplandecer uma serena beleza

em segredo que mais se revela, mudo,

no íntimo sentimento da natureza.

 

Quem não sabe ouvir os passarinhos

cantando alegremente uma suave canção

nem vê a beleza rude dos caminhos

 

não vive o amor maior, sem dimensão,

ferido pelos próprios espinhos

ou mesmo: sequer tem coração...

 

 

 

Soneto polimétrico XI

 

 

Não sei quanto tempo se passará:

se um momento somente ou a eternidade,

até que você venha para apagar

a chama que me consome em saudade.

 

É preciso um pouco mais que esperança,

um amor de constante e viva presença,

acalentando não somente a lembrança,

mas vivendo sua própria crença.

 

É bom acreditar no futuro,

porém, melhor é viver o presente,

pois a vida é um modo puro

 

de dizer sim ao que se sente,

procurando eliminar o obscuro

para o amor brilhar dentro da gente.

 

 

 

Soneto polimétrico XII

 

 

Sozinho, eu sou tudo e nada,

o que se consome na solidão,

caminheiro perdido na estrada,

sem um rumo, sem direção.

 

Contigo, sou nada e tudo

o que se faça mais preciso,

se contemplo em beijo mudo

a beleza toda do teu sorriso.

 

Nada e tudo, tudo e nada...

É, sempre é assim:

dualidade digna de estudo,

 

pois nesse teu colo de fada

o mistério parece não ter fim

ou tu és o segredo de tudo...

 

 

Soneto polimétrico XIII

 

 

Preciso do teu amor loucamente,

como a água pro perdido no deserto,

mas espero o teu amor silente,

que vai tão longe pra chegar tão perto.

 

Esse teu amor, que é vã indiferença,

lutando para continuar a ser o que é.

Esse amor desencontrado, fé sem crença,

que insiste em se fazer desesperança, até...

 

Mas ele existe, se mente, bem sei disso,

mesmo que ainda distante, quase perdido,

flor morrente que deixou no fruto seu viço...

 

É uma realidade dentro do sonho pra ser vivido,

encontro no encanto de uma rima sem compromisso

senão a felicidade de um no outro ter acontecido.

 

 

 

Soneto polimétrico XIV

 

 

A vida é mesmo uma coisa engraçada:

algumas vezes, parece ser muito, tudo,

outras vezes, parecendo ser quase nada,

mistério infinito que mais se revela mudo.

 

A vida, um bem que nos faz tanto mal,

a beleza, sempre tão cheia de contradições,

um encontro perdido, encanto sem igual,

no sentimento único das grandes emoções.

 

Viver é mesmo uma coisa que passa e fica,

a eternidade de cada pequeno instante,

da pobreza de tudo do mundo a parte mais rica.

 

Viver, espectro tão próximo e distante,

ausência que mais se encaixa na vida,

em consciência emergente dum sonho delirante...

 

 

 

Soneto polimétrico XV

 

 

No interior deste meu peito

cursa um rio de sentimentos,

ora definhando, seco, em seu leito,

pela vazão de tantos sofrimentos.

 

Águas límpidas e cristalinas de outrora,

instante de única felicidade passado,

canícula ressecando emoções agora

que escorreu todo sentimento represado.

 

Rio que nasceu do teu sorriso

em meus olhos, menina dona do meu olhar,

fonte d’água preciosa, de que preciso

 

para viver feliz só em te amar,

no meu curso, destino de rio, onde diviso

mais adiante teu abraço de amor do mar

 

 

Soneto polimétrico XVI

 

 

Esse teu gesto que me falta e acalenta

é meu encanto, tormento e ainda mais,

parte de toda a idiossincrasia que me alimenta,

buscando a tormenta na impossível paz.

 

Esse teu gesto que me salva e sustenta

o próprio existir do universo tão fugaz,

esse teu gesto tem o gosto gasto de lenta

esperança se perdendo em partes desiguais.

 

Esse teu gesto, de possível intento

natural, por força de algum artifício

tem o meu querer guardado por dentro.

 

E por fora, fora somente um vício

se o teu impassível ser em vento

não me animasse tanto em tê-la tão difícil.

 

 

 

 

 

Soneto polimétrico XVII

 

 

Tu não sabes que passo noites em claro

por teu impossível amor, que jamais terei,

nem podes imaginar o quanto me é caro

ser ainda assim, como se fora escravo um rei.

 

Não me deves nada, nada posso nem quero cobrar-te

de assunto tão vário é melhor mesmo nem tratar,

mas de tua beleza me chega tanta arte

que sinto em mim nascer um poema singular.

 

Nem me conheces, ao menos o muito-pouco

que possa tentar por tal bem querer.

Ganho, perdendo-te de mim, pois sou louco,

 

Sim, mas louco de te desejar felicidades

sem o meu prazer, pois se é para te perder,

que te percas de mim para outra melhor realidade.

 

Soneto polimétrico XVIII

Para Laudelina

 

Você pensa que me conhece muito bem,

porque é uma boa pessoa, mas assim se ilude:

sou fragilmente humano, bom e ruim, pois também

tento ser pra você o que pra mim não pude.

 

Posso ser em alguns momentos uma doce ilusão

se realizando por completo, dentro da vida.

Em outros instantes, perco a própria razão

e a pura emoção também pode ser perdida.

 

Você é uma parte boa dentro de mim,

algo que me resta de feliz idade pra se viver,

uma saudade sã, que não tem mais fim.

 

Jamais poderia me perdoar se fizesse sofrer

a alguém que tanto quero bem assim,

por isso é que não posso estar com você.

 

 

Soneto polimétrico XIX

 

 

Eu, que vejo o sol brilhar todo dia,

sinto se passarem os momentos no tempo parado,

escorrendo instantes vivos de dor e alegria

no cansaço do sentimento renovado.

 

Se a busca das emoções não alivia

o espaço do instante feliz distanciado

bem mais fácil e cômodo seria

a alma a ninguém nunca ter amado.

 

Mas... quem sabe de nós mesmos,

assim, se somos tão inconstantes,

o nosso íntimo de amor ao vivermos?

 

Tão distante se apresenta o próprio sentido

que o que se mostra agora seria antes

uma ilusão futura desperdiçada no momento vivido...

 

 

 

Soneto polimétrico XX

 

 

Do meu canto de paz nasceu

todo um exercício de esperança,

pois a vida não se perdeu

no sorriso esquecido de uma criança...

 

Basta lembrar: mais que sobrevivência,

somos presença de eterna idade da vida.

Renovando-se cada momento em sua essência

jamais haverá felicidade perdida...

 

Há em cada átomo do universo um infinito

que frutifica das fronteiras do finito,

unindo tudo e todos em apenas um...

 

E assim nos ensina a natureza a cada dia:

desde o primeiro, nada morre, nada se cria;

em tudo transparece a unidade comum...

 

 

 

Soneto polimétrico XXI

 

 

A existência é parte resumida

de algo maior em dimensão e teor;

o finito e o sem fim: tudo é vida,

e em tudo transparece o seu valor...

 

Mesmo sofrimento ou alegria, o amor

é o que completa o viver em sua medida,

pois ainda que seja espinho de dura dor

é também eterna esperança, nunca perdida.

 

Mas como resistir ao próprio conflito

sempre em nosso íntimo presente

de que tudo se perde em nada no infinito?...

 

Viver é também só uma parte da diversidade

E o que desgasta mais o pensamento silente

É essa procura incessante pela unidade.

 

 

Soneto polimétrico XXII

 

 

A vida é apenas um só dia em eterna idade,

absoluto que se perde nas partes dispersas,

fragmentando em infinito a própria unidade,

na profusão caótica de suas coisas diversas.

 

A manhã que nasce é a infância,

cheia de vigor, luz, ilusões e alegria.

A tarde se adultera, perdendo a magia,

anoitecendo a velhice em tão pouca distância.

 

A vida é apenas um pequeno instante,

maior que tudo mais o que possa haver,

mesmo que se transporte a dimensão distante.

 

A vida se completa no incompleto do viver,

inconstância que se faz constante,

renovando sempre mais o próprio prazer...

 

 

 

 

 

Soneto polimétrico XXIII

 

 

Sempre sonho contigo à distância

e não consigo deixar esta ilusão,

o desejo incontido, a louca ânsia

de te sentir bem junto do coração.

 

Mas, por mais que tente, é amor em vão,

perdido nos espaços, em vil vacância,

despedaçando-se ao viver num sim o não

que se faz em cada momento de relutância,

 

renitência ao sabor de saber amar,

sentir o gosto do gozo do amor,

o beijo do cerne na carne em par,

 

o perfume por fome da flor,

o encanto do encontro em se dar

à beleza, à magia invisível dessa cor...

 

Soneto polimétrico XXIV

 

 

Eu preciso de você, do teu amor e carinho,

pois sem você eu não sei mais nem viver;

você é o meu destino, a luz do meu caminho,

que ilumina tudo em mim, como novo alvorecer.

 

Você não pode ignorar ou fingir-se distante,

se a tua própria vida também passa por mim;

passa não só por passar e ir adiante,

mas porque nos completamos no mesmo fim.

 

Fim não de destruição, o nada final:

fim de afinidade, coesão, convergência

que se completa na eternidade do inicial.

 

Sim, inicio de meio infinito em emergência,

na simplicidade desse amor, cerne, carne e sal

temperando a vida com o gosto da existência.

 

 

Soneto polimétrico XXV

 

 

O que há de mais profundo na vida?

Impossível não acreditar que tudo é possível,

se o pensamento traduz a parte perdida

de se encontrar na verdade algo incrível.

 

Qual é o melhor caminho

para sempre se chegar a si?...

Opção entre ser e estar sozinho

ou consumir-se na multidão do “vivi”...

 

E a vida espera o seu juízo

encancerada na prisão do pensamento,

que vive indeciso se é ou não preciso

 

um pouco de sonho a mais, liberdade,

o arbítrio sem arbítrio desse sentimento

para transformar a real em felicidade...

 

 

 

 

 

Soneto polimétrico XXVI

 

 

Há momentos em que sinto dentro de mim

toda a alegria e beleza da vida.

Já em outros instantes, não é bem assim

e a felicidade parece ser ilusão perdida.

 

Talvez seja assim mesmo a existência:

uma mistura de sabores os mais diversos,

que deixam em tudo um pouco de sua essência,

como a humilde poeira que morre nesses versos.

 

Pensando sempre o além, em eterna ânsia,

meu olhar no horizonte se completa,

como se amasse o espaço vazio da distância,

 

pois vive dentro de minha alma inquieta

o sabor do saber e da ignorância,

como se um dia eu viesse a ser poeta.

 

Soneto polimétrico XXVII

 

 

Eu fico pensando comigo mesmo:

esse instante é somente meu,

e enquanto o registro para além,

meu pensamento vai ao futuro:

 

Quem saberá dele, mais adiante,

quando apenas restar sua lembrança?

Quem tentará imaginar nesse momento,

o que se passa em mim, no meu viver?

 

Se é noite ou se é dia,

se chove ou se faz sol,

se é manhã, cedo ou tarde?

 

Se há flores nos jardins

e olhos para vê-las, sorrindo...

Se, ao menos, uma esperança de amanhã?...

 

 

Soneto polimétrico XXVIII

 

 

O mais belo poema, o mais brilhante,

inédito, ainda está por ser feito.

Trago em mim essa sensação angustiante

de ter que tomá-lo em partes ao meu peito.

 

Minha alma vive em angústia constante

e por mais que tente qualquer jeito,

se passa em segredo mudo esse instante,

sem bem poder traduzi-lo direito.

 

E continuo então devendo

o que ainda mais devo a mim

e a todos que a este estão lendo.

 

Porém, mesmo faltando palavras assim,

vou continuar sempre escrevendo,

para me completar neste fim...

 

 

 

 

 

Soneto polimétrico XXIX

 

 

Há crianças vagando nas ruas

e pais preocupados no serviço.

Há verdades que se escondem, nuas,

e pouca gente se importando com isso...

 

Há ainda um pouco de sossego,

enquanto não se confirma o perigo.

Há um que se preocupa com o emprego

e outro que só pe(r)de um amigo.

 

Há um mundo inteiro lá fora

e eu aqui, vendo tudo, fiado, na televisão,

como se não pudesse fazer nada, agora.

 

Há uma realidade de concreto e ilusão.

Mas há também uma saudade lembrando de outrora,

quando existia sentimento de vida no coração...

 

Soneto polimétrico XXX

 

 

A vida é um instante em eternidade,

é uma procura em si que mais se perde,

o tal caminho para uma feliz idade

e, talvez, disso tudo, só a caminhada se herde

 

de todo o esforço em se prosseguir,

sempre em frente, sempre avante,

sem desânimo, mesmo ao se cair,

pois o destino é sempre mais adiante.

 

A vida não é um instante apenas

das horas de prazer nenhum

ou das horas tranqüilas, serenas...

 

É o encanto maior em comum,

o infinito das coisinhas pequenas

e o tudo que há em cada um.

 

 

Soneto polimétrico XXXI

 

 

Meu amor é um poder sem domínio,

um encanto desencantado, que persiste

na magia da saudade e seu fascínio,

onde um mundo vão de esperanças existe.

 

Meu amor para ti é nada.

Teu amor para mim é tudo.

E mesmo em tua presença calada,

fala o meu sentimento mudo.

 

Se viver é amar,

então, tu não vives,

pois vivo eu a te adorar

 

e tu apenas sobrevives,

na própria indiferença de não deixar

os teus amores livres.

 

 

 

 

 

Soneto polimétrico XXXII

 

 

Tenho olhos que me dão o mundo

e tiram de mim toda esperança de viver.

Tenho o honrado nome de vagabundo,

pois da utilidade nada mais nos resta ser....

 

Tenho fontes de energia imensas dentro de mim

e me gasto vivendo os outros tanto assim.

Procuro o que está distante de se alcançar,

pra não mais viver o momento de chegar.

 

Calo quando não há motivo para calar.

Falo quando o som se perde em sua loucura.

E me deixo em tudo, sem nunca estar,

 

escutando a palavra vã, que apenas murmura

o som calado das coisas deste universo par

de um outro mundo onde se perde a procura...

 

Soneto polimétrico XXXIII

 

 

O amor está para a mulher

assim como esta para o homem

é o perfume da flor que se quer

e que na beleza se consome.

 

No amor não há mais que fome

a se alimentar de um desejo qualquer,

no gozo do gosto. De resto, sem nome,

a vida é sempre perdida, como se fizer.

 

O amor é muito e pouco

é precipício, seio e fim,

transcendência de um gemido rouco

 

que se espalha no ar assim

como o infinito desse instante louco,

o presente de um ao outro, em “sim”...

 

 

Soneto polimétrico XXXIV

 

 

Se um dia eu puder te encontrar,

que não seja muito tarde, meu amor,

pois se esse encontro não chegar,

serei eterno prisioneiro na dor.

 

Há muito tempo que te espero,

já nem sei mais quanto sofri,

pois o muito que te quero

é tudo porque assim vivi.

 

Vamos, vem ao meu encontro, pois tanto

espero ouvir de teus lábios o “sim”

que me fará esquecer todo o pranto.

 

Não negues a tua beleza pra mim,

pois se ainda me faltar esse encanto

o infinito terá o seu fim...

 

 

 

Soneto polimétrico XXXV

 

 

A maior das violências é não amar,

guardar o coração fechado, indiferente,

totalmente inacessível a um olhar,

à beleza de se revelar o que se sente.

 

Não amar é destruir por omissão,

construindo-se um muro entre as pessoas

que, assim, isoladas, em sua solidão,

perdem mil e uma coisas boas.

 

É preciso um pouco-muito de carinho,

a confiança de todos em cada

para que se reencontre o caminho

 

que leva ao destino dessa estrada,

mesmo com toda pedra, poeira e espinho,

pois só assim a felicidade será alcançada.

 

 

 

Soneto polimétrico XXXVI

 

 

Por que te esquivas dos meus desejos,

se eles mal algum haverão de te fazer?

Por que foges assim, arisca, aos meus beijos,

se eles são o teu próprio e íntimo querer?

 

Por que enganas a ti mesma, dizendo “não”,

se o sentimento em teus olhos diz “sim”?

Por que maltratas tanto o meu coração,

se o teu próprio desejo está em mim?

 

O que te faz tão próxima e ausente,

na minha terna ânsia das tuas sensações,

vivenciando calado o sentimento presente?

 

Quem sabe dos mistérios a sua cor,

saberá descrever o que se passa nas emoções,

o mágico colorido invisível desse teu amor?...

 

 

Soneto polimétrico XXXVII

 

 

Invejo o sol que todo dia te beija o rosto,

abraçando, deliciando também as tuas formas perfeitas,

mas ainda mais invejo o tão sublime gosto

de quem te sente no leito onde te deitas.

 

Se o mundo é um desencontro de amores,

bem melhor seria para mim não mais te amar,

mas como resistir, se encontro até nas flores

esse sentimento ainda mais forte, a te desejar?

 

Amor, paradoxal caminho de dúvidas e respostas

que sempre se consomem sem a nada responderem,

deixando mais próximo-distantes as emoções opostas.

 

Amor, emoção que frutifica um novo momento

sempre que as sensações que se encontram viverem

a se amar dentro do mesmo e único sentimento.

 

 

 

 

Soneto polimétrico XXXVIII

 

 

Como são perfeitas as formas do teu corpo:

as tuas curvas, em suaves contornos,

parecem ter em teus seios maduros

taças de vinho inebriante como adornos.

 

Todo teu espaço é perfeição harmonizada,

dos mais altos cumes ao mais profundo vale,

emoção viva, nos meus sentidos vivenciada

pelos desejos, em sentimento admirado.

 

Como pode haver tão natural perfeição

a encantar meus olhos, todos os sentidos

extáticos a iludirem o pobre coração

 

na imagem dos teus carinhos possuídos

pela intimidade total de realização

a te amar nos meus sonhos tão vividos?

 

 

Soneto polimétrico XXXIX

 

 

O teu corpo, delírio do meu pensamento,

fonte de prazer e ilusão de amor.

O teu corpo, para mim, é vida e tormento,

mas também felicidade, disfarçada em dor.

 

Quisera eu tê-lo comigo, em tais anseios

de conquistá-lo com o fogo de meus desejos

e sentindo a volúpia divina em teus seios,

acender-lhes mais a chama de vida com mil beijos.

 

O teu corpo, mistério de encantos tamanhos,

maiores que o pensamento pode querer ao desejar.

No teu ventre uma vida de sonhos estranhos

 

me faz sentir um felicidade única, singular.

Tudo em ti, seios doces, lábios, olhos castanhos,

mesmo na ilusão me falam da beleza de amar...

 

 

 

 

Soneto polimétrico XL

Para o meu pai, Luiz Gonzaga Fernandes Carvalho, por escolha dele mesmo

 

 

Se cada pessoa vivesse o amor,

a felicidade seria de todos,

pois a alegria iria estar

no gesto fraterno, de sentimento

 

verdadeiramente vindo do coração,

íntimo da liberdade ao viver

em cada coisa, no olhar sincero e amigo,

um instante maior de união total.

 

Apenas se faz necessário crer,

ter esperança no coração humano,

centro, às vezes, confuso, das emoções vividas.

 

É com esperança e muito amor

que o mundo se fará realmente melhor,

na paz de cada um, na paz de todos...

 

Soneto polimétrico XLI

 

 

Quantos sonhos destruídos!... Desamor e egoísmo

margeiam a estrada da vida neste mundo cruel...

Quantos passos se perderam, em profundo abismo,

mesmo sempre procurando alcançar o céu.

 

Não é desencanto o real tormento da alma

que se constrange em viver tão dualistamente,

perdida entre o gritar e o sofrer calma

todas as tempestades da melhor sorte ausente.

 

Mas quem há de parar no meio do caminho

para retornar a um outro princípio de tudo,

se assim bem o pudesse fazer, sozinho?

 

Medo, dúvidas, incertezas... tudo vaga n’alma humana

que interroga ao seu destino, cego, surdo e mudo,

o quanto ainda vale a sua verdade insana...

 

Soneto polimétrico XLII

 

 

Felicidade... Como dizer o que ela é?

Não a sei eufórica ou se alma tranqüila.

Ou serão as duas coisas, temperadas pela fé?

Na verdade, não sei dizer, somente senti-la...

 

E o que ela traz, o que ela deixa?

Isso é muito fácil de descrever:

Dela tenho paz, nenhuma queixa

do que por ela foi antes sofrer.

 

Talvez recompensa de quem sabe esperar,

de quem também pensa nos ausentes,

pois o amor não se limita por tempo nem distância

 

e do amor é que nasce fruto singular,

pequenas coisas que em suas sementes

transformam em realidade essa eterna ânsia...

 

 

Soneto polimétrico XLIII

 

 

Ao descer o manto negro da noite fria,

quem esquece o brilho de tantas mil estrelas

não sabe viver em si toda a plena alegria

nem capta dos olhos o mágico segredo em vê-las.

 

Todo crepúsculo, assim como a aurora inicial,

é luz vagando em busca de quem a veja

e nunca deixa fluir escuridão total,

dando às estrelas o brilho que esperanças enseja.

 

A existência é todo momento de trevas ou luz

em que mais a esperança sobrevive,

sorrindo alegrias ou sofrendo em sua cruz,

 

pois a vida é como o sol no horizonte distante:

nascendo ou se pondo aos olhos de quem a vive,

assim é que se faz seu sentido em cada instante...

 

 

 

 

Soneto polimétrico XLIV

 

 

América, soy loco por ti, de amores,

Ainda que sem a guerrilha do povo

E com a mesmice de outras flores,

Mais vale sonhar teu sonho sempre novo

 

América, soy loco por ti, de amores,

É tua a vida em que me movo

Por entre tons de várias cores,

Mas todas saídas do mesmo ovo.

 

América, de amores, soy loco por ti,

Pelos longos quinhentos anos

Da curta resistência que vivi.

 

América, por ti, soy loco de amores,

E por todos los hermanos

Que repartem alegrias e dores.

 

 

Soneto polimétrico XLV

 

 

Tantas vidas se cruzam em algum momento

E depois simplesmente se esvaem, perdem-se

Deixando ainda mais ferido um resto de sentimento

Por tudo do nada que nos pertence.

 

Um gosto desgastado pela sempre eterna perda,

Doce delícia de um vício amargo, viver

É toda a falta de fé presente na certeza

De que todos os caminhos nos trazem sofrer.

 

Uma pedra na mão carrasca do tempo

Arremessada contra os espaços da nossa vida,

O nosso próprio fim, destruição é o que somos

 

Da eterna idade de viver não há nenhum contento

Nem remédio algum pra curar essa ferida

De nunca mais ter mas sermos sempre a felicidade que já fomos...

 

Soneto polimétrico XLVI

 

 

Guarda-se dentro da gente

Mesmo sem o conhecimento

E pode se revelar de repente

Na força viva do sentimento

 

Infinito é o seu momento

Eterna vida que se sente

Brotar do instante lento

Passado e futuro no presente

 

Efêmera eternidade do muito viver

Eterno sentir de dor e alegria

Brindando ao segredo que se possa conter

 

No íntimo de tudo, em realidade ou fantasia.

Ganhar que se completa mais em se perder

Tendo tudo e sendo mudo querer: Poesia!...

 

 

 

Soneto polimétrico XLVII

 

 

A vida se perde, vivida ou não,

Pelos espaços do mundo, no tempo

Em que a existência da razão

Ou do sentimento morre por dentro

 

E não adianta nem mesmo a emoção

Tentando retornar o bom momento

Se tudo e nada sempre são

Duas faces da mesma moeda: mudar lento...

 

O contínuo fluir das coisas e seres

Sustenta a vida com a morte

E faz o ciclo dos poderes

 

Na alternância de cada sorte

Está o saber de todos os saberes:

Da fraqueza é que nasce o mais forte...

 

 

 

Soneto polimétrico XLVIII

 

 

O amor é mais uma loucura

Que mata a vida em cada instante

Um mal que não tem cura

Deixando todo bem distante

 

Tempestade, calma que nos atormenta

Roubando a paz de cada gesto

No nada de tudo o que se tenta:

Vitória perdida é o seu resto.

 

Algo que se perde da gente

Dentro de nós mesmos e, por fim,

Resgata no viver a dor que se sente

 

Sempre em todo momento premente

Enquanto vivemos o presente

Do que não há em sim...

 

 

Soneto polimétrico XLIX

 

 

Se os olhos que vêem um sorriso

Pudessem penetrar até o coração

Saberiam que muitas vezes um riso

Procura disfarçar uma aflição

 

Assim também é o estado conciso

Imagem vaga, cheia de ilusão,

Mostrando que sempre é preciso

Ver além da própria interpretação

 

Às vezes, os olhos mentem sem querer

Pois não captam mais do que se pode ver

E para eles felicidade é sempre distante:

 

Um pôr-do-sol na paisagem da janela...

Porém, esquecem-se que, nesse instante,

Nós é que estamos longe dela...

 

 

Soneto L

para o meu pai,

Luiz Gonzaga Fernandes Carvalho

 

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______________________________________________

 

 

1101101 = m

1110101 = u

1101110 = n

1100100 = d

1101111 = o

1110100 = t

1100110 = f

 

--------------------------------------------------------------

 

Este poema foi dedicado inicialmente ao meu pai, Luiz Gonzaga Fernandes Carvalho (técnico em eletrônica), no livreto artesanal Tempoçapse (2004/2005). Posteriormente, em inícios de 2007, constou com o título "Soneto cibernético III", e sem dedicatória, na minha participação no livro conjunto "Escritos Et O breve verbo", por pensar em dedicar um outro poema ao meu pai, já que este, apesar da profissão (se bem que já aposentado), não se mostra muito íntimo de computadores e informática. A "tradução" do "soneto", para quem não quer ter o trabalho de decodificar através da legenda (chave de código) é a seguinte:

 

Mundo

Mudo

Tudo

Fundo

 

Fundo

Tudo

Mudo

Mundo

 

Mudo

Mundo

Mudo

 

Fundo

Tudo

Fundo

 

...

 

 

 

 

SONETO PARA TERESINA

 

Atrás da sempre esquiva harmonia

Mais e mais buscamos querido bem

Que nos devolva toda alegria

Da vida que vive por nós também

 

E pelo mundo se faz sintonia

Do amor que a todos nós vivos mantém

No alento de tão bela companhia

Que é ter junto quem nos faz ser alguém

 

Buscar-te é descobrir nova verdade

Nos doces olhos verdes da menina

Que sempre trazem felicidade

 

Pois esse tal bem-querer mais ensina

O muito amar a toda humanidade

Só porque nós te amamos, Teresina.

 

 

SEGUNDO SONETO PARA TERESINA

 

Cento e cinqüenta e seis anos de vida

Sempre se mantendo bonita e jovem

Para que eternamente se renovem

Os laços que te fazem mui querida

 

Tuas alegres belezas nos comovem

Fazendo feliz nossa dura lida

Na busca de uma certeza florida

Para os novos tempos que se promovem

 

Certeza de que és como o bom vinho

Ou melhor: como a doce cajuína

Que o tempo torna perfeito carinho

 

Quanto mais se faz de eterna menina

Num sonho que não se sonha sozinho

Mas com todos que te amam, Teresina

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cláudio Carvalho Fernandes
Enviado por Cláudio Carvalho Fernandes em 25/11/2024
Alterado em 25/11/2024
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