Você me diz que eu penso demais em mulheres e que não gosta disso, mas quase sempre me deixa na mão: talvez a gente se entendesse, se você gostasse mesmo de poesia, se ao menos lesse Bandeira: “Os corpos se entendem; as almas, não”
Fiz um novo poema para você, a partir desse nosso relacionamento tão conturbado ultimamente, cheio de idas e vinda mas sei que você não dará a mínima para ele, igual aos outros que já dediquei a quem antes parecia sempre tão sensível...
Soneto polimétrico I
para Luana P.
É preciso um pouco de carinho
mesmo com todos os perigos
pois em se abandonando o caminho
não se chega jamais aos destinos contíguos
É preciso um pouco-muito de confiança
e mais de vida na vida em flor
para que ainda exista esperança
num mundo fechado para o amor
É preciso que ainda se encontrem
no carinho um homem e uma mulher
para que nesse encontro se encantem
e façam renascer num gesto de fé
tanto amor quanto existia ontem
para a vida reviver, como se quer...
Tento compreender suas razões para tantas esquivanças e esquisitices de manter assim, desse jeito, essa nossa complicada relação mas por mais que faça você sempre aparece com uma outra velha novidade, em tudo diferente de nos unir mais, um capricho tolo de menina mimada. Nem sei por que já ofereci tantos poemas a você, musa ingrata, reticente. Pior: insensível. E não há nada mais fundamental, básico, num relacionamento humano do que isto: sensibilidade. É por isso que eu te falo e sempre falei tanto de poesia: poesia é vida. Lembro ainda do meu poema de que você mais gostava, pelo menos disse ter gostado muito. Agora mudei aquela velha sequência mas acho que você nem se lembra mais...
Soneto polimétrico II
Há uma rosa escondida
no corpo de cada mulher
É uma flor de toda a vida
para o bem que se quer
Há um segredo na pele
uma certa magia na presença sua
um rigor de amar que mais se revela
no instante completo da realidade nua
Há um desejo no olhar,
uma quase incontida ânsia
que se prende pra mais se guardar
e florescer ao longe, à distância
assim é o destino de amar:
um saber que é mais ignorânsia...
(Ignorânsia: você saberia o porquê desse 'neologismo'? Nem é bom tentar... Ou faça-o, se achar que vale a pena. Mas não alimente esperanças infundadas.)
Não gosto de só esperar e só esperar é o que eu mais tenho feito ultimamente. Ao contrário do senso comum, é preciso não ter esperança alguma para realmente se construir o que se quer, pois eu só posso contar comigo, já que vejo que você se mostra tão distante, igual a todas as outras pessoas, sempre tão ocupadas com o seu mundinho particular. Até parece que tudo isso já estava prenunciado pela poesia, sempre ela, mostrando as coisas do mundo e da vida...
INTIMIDADE
Você vem, me queima de desejos,
depois, me joga água fria.
Não compreendo mais os seus beijos
e essa sua sensualidade vazia.
Essa inércia, esse fogo sem calor
que em mim consome a alma,
esse seu corpo vazio, sem amor,
que me faz perder a calma.
Sua boca convida ao prazer,
seu corpo é o mais infinito desejo,
mas você insiste em desfazer
todo o ímpeto que em seus olhos vejo.
Meu corpo arde de desejos pelo seu
e você alimenta esse fogo ainda mais,
insinuando que ele é todo meu,
mas fugindo depois, levando minha paz.
E assim vivemos esse amor
que somente me faz sofrer
pois você me provoca esse ardor
e depois me deixa sem ter você.
Mas não sei realmente
por que você foge assim.
Será que você não sente
esse fogo que arde em mim?...
...
Você, sempre você como centro do momento!!! E eu é que termino sendo, ou ao menos, parecendo o egoísta!!!?...
...
Às vezes a ilusão me adormece e eu sonho contigo num amor sem fim, mas logo me vem acordar a distância que cresce sempre a te afastar mais e mais de mim. E então eu me pergunto, desiludido e tristonho, por que mereci tão triste caminho? Será que o amor é apenas um sonho que com o tempo se transforma em espinho?... E ainda pergunto a mim somente por que tanto sofrimento a quem tanto ama e por que amar a quem nos é indiferente se não há combustível para essa chama?... Mas eu ainda me culpo por não saber te dar a exata dimensão deste amor sem fim. Só posso mesmo dizer que te amar é o que há de melhor e mais belo em mim.
Mas...
Semana passada, cansei de telefonar à noite e você nunca estava. Ou havia saído com alguma colega ou ainda estava na aula de alemão. Agora me diga: pra que diabos você quer aprender uma língua de filósofos, de sabedoria, se você se mostra tão mesquinha, tão curta de entendimento no próprio relacionamento do dia-a-dia? Eu te acuso? Diminuo? Aborreço? Sou teu amigo e você não vê, quero te amar sem limites e você não quer, presa a outros laços, numa vidinha miúda e tranqüila, sem maiores lances, burguesinha tola.
O amor é poda!...
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