SU WU PASTOREAVA CARNEIROS
Su Wu era um importante funcionário civil da dinastia Han da antiga China. No ano 100 antes de Cristo, quando o imperador Han Wudi planejava atacar o vizinho país Xiongnu este enviou um oficial para pedir paz à dinastia Han. Em consideração, Wudi enviou Su Wu a Xiongnu para exprimir a boa vontade de sua dinastia.
Su Wu, levando na mão um jinguiê, isto é, um sinal representativo da corte dinástica, com seu auxiliar Zhang Cheng e alguns subalternos, chegaram a Xiongnu. Quando ele, no cumprimento de sua missão, estava pronto para retornar, ocorreu algo inesperado.
Antes de Su Wu ir a Xiongnu, um outro funcionário da dinastia Han, chamado Wei Lu, capitulou e foi altamente considerado, elevado a importante posto pelo chefe de estado em Xiongnu. Wei Lu tinha um subalterno denominado Yu Chang, que estava descontente com Wei Lu por causa de sua rendição. Yu Chang aconselhou-se com seu amigo Zhang Cheng, o auxiliar de Su Wu, para rebelar-se, mas ele fracassou e foi capturado. O chefe de estado de Xiongnu, Chanyu, encolerizou-se muito e ordenou que Wei Lu interrogasse Yu Chang e procurasse cúmplices.
Disso Su Wu não sabia totalmente até Zhang Cheng dizer a ele a verdade. "Se Yu Chang confessar, nós todos seremos intimados. Acaso não perderemos o semblante de nossa corte?". Dizendo isso, Su Wu desembainhou a espada para se matar. Todavia Zhang Cheng o impediu e com os outros o convenceram a viver.
Yu Chang suportou diversas punições mas de modo nenhum confessou que Zhang Cheng fora cúmplice. Não tendo recurso, Wei Lu relatou a Chanyu. Após isso, Chanyu já não quis ser indulgente com Su Wu. Ele, então, mandou Wei Lu para fazer render-se Su Wu.
Ao ver que Wei Lu vinha para capitulá-lo, Su Wu disse: "Eu sou um enviado da dinastia Han. Se não posso cumprir minha missão, perco o espírito, como posso viver sem rosto?". Novamente ele tirou a espada para cortar o seu pescoço. Wei Lu rapidamente o abraçou, todavia Su Wu desmaiou por causa de grave ferimento. Após um longo tempo de cura, Su Wu readquiriu a consciência.
Chanyu admirou muito Su Wu por causa disso, opinando que ele era um homem com espírito. Após Su Wu recuperar-se, o chefe de estado enviou de novo Wei Lu para lhe depor as armas. Então Yu Chang já havia morrido enquanto Zhang Cheng rendeu-se por causa da ameaça de Wei Lu.
Assim, Wei Lu disse a Su Wu: "Eu capitulei de fato obrigado por Xiongnu, mas o chefe de estado, Chanyu, tratou-me bondosamente, colocou-me em importante posto, deu-me dez mil súditos e incalculáveis bois e carneiros. Eu agora na verdade gozo toda sorte de felicidade aqui. Se você se render, receberá o mesmo".
Mas, estourando de furioso, Su Wu levantou-se e censurou Wei Lu: "Você é filho de Han, outrora funcionário da dinastia Han, mas esqueceu o bisavô, esqueceu os pais, esqueceu o bem da corte, descaradamente fez-se um traidor da nação. Que espécie de rosto você tem para falar comigo? Eu de modo nenhum capitularei, apesar de todas as coisas que você fará".
Ouvindo o relato de Wei Lu, Chanyu logo prendeu Su Wu numa adega vazia, a fim de que ele se flexionasse diante de um longo tempo de sofrimento. Houve inverno, externamente esvoaçavam flocos de neve e plumas. Su Wu tolerou o frio e a fome, alimentando-se com tiras de couro e sola. A sede ele saciava com a neve.
Dias após, achando que o sofrimento não era eficaz, Chanyu mandou Su Wu pastorear carneiros junto a Beihai, dizendo: "Você poderá retornar a vossa pátria quando um macho de ovelha parir um filho".
Ao pé de Beihai, Su Wu já não tinha ninguém nem nada consigo além do jinguiê que representava a sua corte.
Ele pastoreava carneiros o tempo todo com esse jinguiê na mão, esperando que um dia pudesse retornar ao seu país natal. Mas o tempo passou, dia após dia, até o jinguiê fazer-se um bastão despido, porque suas borlas caíram totalmente dele.
Somente dezenove anos depois os dois países reconsideraram sobre paz. Su Wu, assim, finalmente pôde retornar a seu país, após um sofrimento insuportável para um homem comum, com barba branca, cabelo branco. Ele sempre teve o jinguiê todo nu e sem penacho, como precioso símbolo de seu país. Muitos dos moradores das capitais vieram para lhe dar as boas vindas, e com lágrimas o aplaudiram: "Eis aqui verdadeiramente um grande homem".
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Conto chinês de Chen Hongying traduzido, através do Esperanto, por Cláudio Carvalho Fernandes de original da revista "Kontakto" publicado na página 12 do número 121, de janeiro de 1991.