Um amor de verdade
Ema pertencia a uma das famílias mais nobres da cidade.
Seu status costumava atrair amigos aproveitadores. Com apenas treze anos, fazia questão de possuir tudo o que desejava. A única que a fazia ser uma simples mortal era Angelina, uma garota pobre, que nunca invejou nada do que Ema possuía. E era por isso que a patricinha a considerava sua melhor amiga.
Angelina não suportava as canastrices de Ema. O único motivo pelo qual a suportava era o fato de nutrir uma paixão avassaladora por seu irmão mais velho, Germano.
Ao contrário da irmã, que exibia longas mechas louras e olhos esverdeados, Germano possuía cabelos escuros e olhos azuis.
Não era só o aspecto físico que os diferenciava. Germano não era esnobe e detestava alpinistas sociais. Gostava de ter vida simples e lutava por causas sociais. Usava a fortuna da família em prol de ajudar moradores de rua e hospitais.
Para isso, ele contava com a ajuda de Angelina. Apesar de seus dezoito anos, cinco a mais do que ela, Germano sentia algo forte por Angelina, sempre que passavam horas a fio juntos, envolvidos em causas sociais, a atração aumentava ainda mais.
Ela tinha sete anos quando Germano a viu pela primeira vez no parquinho. Era recém-chegada na cidade e brincava com sua irmã Ema e seus amigos. Era perceptível de onde ela vinha... Suas roupas e os seus modos a distinguiam das outras crianças com seus educados modos, vestidos e sapatos de grife.
A bola caiu perto da menininha de modos rústicos, ele correu para pegar quando a própria Angelina se antecipou e lhe ofereceu a bola com um doce sorriso e um olhar meigo.
Germano podia ser mais velho, mas podia jurar que desde então, Angelina morria de amores por ele. Difícil foi não corresponder. Ela passou a frequentar sua casa. Mesmo não possuindo os padrões refinados dos demais, Angelina em tudo se mostrava melhor e de bom caráter. Cada vez mais chamava a atenção de Germano. Ele gostava do que sentia por ela, mas havia um pouco de medo.
O tempo passava. Com ele, Angelina vestia uma nova roupagem. Tornava-se uma linda e cobiçada mulher. Aos treze, esbanjava um corpo estonteante, o busto exibia formas arredondadas, a cintura fina se abria nas curvas dos quadris com suavidade, afilavam-se nas longas pernas bem feitas.
Tinha a tez dourada, queimada do sol. Os longos cabelos eram escuros; os olhos eram castanhos, profundos como minúsculas partículas douradas.
Ah, se não houvesse aquela bendita diferença de idade. Certamente não mediria esforços para tê-la. A amava, tinha certeza! O problema é que ninguém veria aquela diferença “como amor”. Afinal, ele tinha dezoito, e ela apenas treze. Diriam que se aproveitaria da menina pobre. E tudo o que ele não queria, eram comentários destilando venenos, acusando de algo tão depravado.
Seria incapaz de tamanha sujeira. Só que a sociedade não perdoava aquele tipo de amor.
Resolveu afastar-se dela.
Passou a trabalhar arduamente nos negócios da família. Fugia de qualquer possível encontro com a mulher que ele amava incansavelmente em segredo.
Quando tornou-se diretor-executivo, afastou-se de vez dela.
Angelina sofreu. Sem entender o que estava acontecendo, tentou algumas aproximações e só recebeu em troca indiferença. Questionava-se sobre o que fizera de errado para tamanha frieza, mas não havia resposta. Havia perdido Germano! Foi a dor mais intensa que já pode sentir na vida.
Só havia uma coisa para tentar curar toda aquela dor: afastar-se daquela casa e dos possíveis lugares onde encontraria Germano ou qualquer um deles.
Tratou de esquecer a todos.
Após quatro anos sem vê-lo, Angelina acostumara-se com a dor e a saudade. Pensava nele agora com menos frequência. Até a foto com que durante todos aqueles anos foi dormir abraçada, deixara de lado. Há muito havia parado de chorar por ele.
Só que o que nunca sequer passou por sua cabeça foi que Germano sempre estivera bem pertinho dela. Observava-a, ia aonde ela estava, cuidava sempre muito bem dela sem que ela percebesse.
Quando ela começou a sair à noite e a andar com rapazes da idade dele, redobrou os cuidados. Não podia deixar que a malícia de nenhum outro homem fizesse sua Angelina sofrer. Sempre que não estava no trabalho, estava vigiando-a, apreciando o quanto havia ficado ainda mais linda. Seus dezessete anos deixaram-na ainda mais mulher. Tinha medo que se aproveitassem dela, pois sabia que por dentro havia uma Angelina frágil.
Uma noite, sem seu disfarce de herói, Germano teve de revelar-se para poder livrá-la das mãos de um sujeito que queria aproveitar-se dela.
Angelina saía de um restaurante com uma amiga quando um cara aproximou-se dela, puxando-a para si, querendo beijá-la à força. Seu estômago se contraía ao vê-la se debatendo entre os braços agressivos daquele homem que a apertava com força bruta, perceptivelmente machucando seus delicados braços com violência.
Sem pensar duas vezes, Germano saiu do carro, estacionado a poucos metros dali, com fúria. Bateu a porta do carro com tanta força que Angelina, mesmo ocupada tentando se livrar daquele monstro, virou-se para ver de onde viera aquele estrondo. Sua cara de nojo, tornou-se em choque. Viu um rosto conhecido vir em sua direção, incontrolável.
Não lembra bem como foi parar no chão. A única coisa que viu foi o homem desconhecido ao seu lado, desnorteado devido ao soco que Germano lhe dera ao ponto de ele cair inconsciente.
Ainda buscando fôlego, Germano ofereceu-lhe a mão a fim de ajudá-la a levantar-se.
O medo do que poderia acontecer nos minutos seguintes lhe fizeram deixar cair uma lágrima.
Ainda com a mão estendida, vendo que ela estava surpresa e ao mesmo tempo confusa, ele disse:
- Vai ficar aí no chão ou vai me deixar ajudá-la antes que a polícia chegue e me prenda?
Sem esperar pela resposta, ele a pôs de pé, pegando-a no colo e acrescentou:
- Vem. Vamos sair daqui.
- Minha amiga, você não... – conseguiu dizer enquanto ele a conduzia pela mão, levando-a até o carro.
Sem tempo a perder, ele olhou a moça que assistia a tudo abismada e disse:
- Sua amiga sabe encontrar o caminho para casa sozinha.
Após fazê-la entrar, ele deu partida à toda velocidade. Vinte minutos depois ele estacionou seu luxuoso carro vermelho exatamente no parquinho em que a vira pela primeira vez quando ela tinha apenas sete anos.
Ambos saíram do carro em silêncio.
Angelina ficou parada ao lado da porta em que saíra. Ele pensou um instante antes de ir até ela, questionando-se sobre o que deveria estar passando em sua cabeça, ou se ela estava se lembrando do porquê de ele tê-la levado até aquele lugar.
Aproximou-se com cuidado, pondo-se diante dela, a fim de obrigá-la a olhar-lhe nos olhos.
- Foi aqui que eu a vi brincando de boneca com Ema – Ele fez uma pausa e tentou acariciar-lhe seu rosto angelical, mas ela tirou-lhe a mão abruptamente. – Aquele fascínio tornou-se em amor...
- Amor?! – Ela riu, irônica – Poupe-me disso, Germano – disse com firmeza. Eu sofri. Você sabia...
- Sim, eu sabia. Mas não era possível... Resolvi me afastar para deixá-la encontrar seu caminho, se descobrir... E não ficar presa a uma coisa que talvez não passasse de meninice sua, e que, no futuro, quem sabe – ele olhou-a com segurança antes de completar – você pudesse se arrepender.
- Você não tinha esse direito de escolher por mim!
- Eu não tinha o direito de fazer com que você se prendesse a mim sabendo que eu já era um homem e você uma garota de treze anos!
- Você também me amava?
Houve um silêncio até que ele respondesse:
- Amava e ainda amo... Me afastei exatamente porque a amava ao ponto de não querer vê-la sofrer por naquela época não corresponder como gostaria... Sinto muito.
Um turbilhão de sensações agitava-se dentro dela. Ela tinha medo. Medo de que tudo aquilo não fosse real.
- Fiquei esse tempo todo esperando você... E pelo que percebi você, apesar de sair uma vez ou outra com algum outro rapaz, não se envolveu. Por quê?
Sem demora, ela respondeu.
- Porque eu não encontrei você em nenhum deles. E eu só queria você, Germano. – Ela, em seguida, questionou – mas como você...?
Ele riu, enigmático.
- Você não me via, mas eu estava sempre perto. Quando não estava na empresa, estava observando você... Morria de ciúmes quando os via com você. Se estava sozinha , tudo o que queria era te fazer companhia...
- Por que resolveu aparecer só agora?
- Não pude me conter ao ver aquele sujeito oprimindo você daquele modo – Ele aproximou-se ainda mais perto e a beijou. A suavidade dos lábios dela instigavam-no a continuar beijando-a.
Mas ele teve de parar para perguntar-lhe:
- Você me perdoa, Angelina?
- Sim, Germano, perdoo você...
- Então você quer casar comigo? Aceita ser minha esposa?
Ela riu contente e respondeu:
- Sim. Tudo o que eu sempre quis foi ser sua...
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Não sei de quem é a autoria do Conto, pois no respectivo arquivo no meu computador de mesa não está registrado o nome da autora ou autor. Acho que pode ser de Marciela Taylor, uma ex-aluna da Escola em que trabalho na respectiva Biblioteca e para quem digitava os textos, a maioria em prosa, quase todos contos, na época em que ela frequentava a Biblioteca da Escola.
Confirmado: O texto é MESMO de autoria da prezada amiga Marciela Taylor e pode ser encontrado no espaço dela aqui no Recanto das Letras, através do seguinte "link":
https://www.recantodasletras.com.br/contos-de-amor/3945138
Se consta aqui, é porque percebi que ainda, à época, passaram algumas inadequações de digitação (erros de digitação) acima corrigidas/os. Aconselho a que leiam o original, na página da Autora e escritora, excelente prosadora e de imaginação fértil, muito criativa, Marciela Taylor.