Paulo Henrique Couto Machado
Canção de amor e morte
Antônia Flor – flor da gameleira –
toda manhã lavrava a terra
com a sabença de quem conhecia
o sabor agridoce dos araçás.
Antônia Flor – flor da gameleira –
na cinzentura da tarde, guardava
no aprisco cabritos e borregos
da fúria profana dos carcarás.
Antônia Flor – flor da gameleira –
aos oitent’anos tinha os olhos acesos
a alumiar, como os olhos de maracajás.
Antônia Flor – flor da gameleira –
fez do amor à terra sua peleja,
sua crença, sua razão de bem-viver.
Antônia Flor – flor da gameleira –
teve o corpo crivado de balas –
à sombra de uma velha ingazeira.
Carpideiras puxaram excelências
e tiranas, com a notícia da morte
a correr nos estirões das veredas.
Antônia Flor – flor da gameleira –, mártir da Reforma Agrária no Piauí.
Paulo (Henrique Couto) Machado, melhor Poeta da atualidade piauiense.
Paulo (Henrique Couto) Machado