SONETO DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Vinicius de Moraes
Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada
Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada
Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura
Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.
Rio, 1941
Autor: Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro , 1941.
Cláudio Carvalho Fernandes
Enviado por Cláudio Carvalho Fernandes em 14/02/2024