Por fim, como exemplo de texto obscuro, que deve ser evitado em todas as comunicações oficiais, transcrevemos a seguir um pitoresco quadro, constante de obra de Adriano da Gama Kury, a partir do qual podem ser feitas inúmeras frases, combinando-se as expressões das várias colunas em qualquer ordem, com uma característica comum: NENHUMA DELAS TEM SENTIDO! O quadro tem aqui a função de sublinhar a maneira de como não se deve escrever:
A necessidade emergente se caracteriza por uma correta relação entre estrutura e superestrutura no interesse primário da população, substanciando e vitalizando, numa ótica preventiva e não mais curativa, a transparência de cada ato decisional.
O quadro normativo prefigura a superação de cada obstáculo e/ou resistência passiva sem prejudicar o atual nível das contribuições, não assumindo nunca como implícito, no contexto de um sistema integrado, um indispensável salto de qualidade.
O critério metodológico reconduz a sínteses a pontual correspondência entre objetivos e recursos com critérios não-dirigísticos, potenciando e incrementando, na medida em que isso seja factível, o aplanamento de discrepâncias e discrasias existentes.
O modelo de desenvolvimento incrementa o redirecionamento das linhas de tendências em ato para além das contradições e dificuldades iniciais, evidenciando e explicitando em termos de eficácia e eficiência, a adoção de uma metodologia diferenciada.
O novo tema social propicia o incorporamento das funções e a descentralização decisional numa visão orgânica e não totalizante, ativando e implementando, a cavaleiro da situação contingente, a redefinição de uma nova figura profissional.
O método participativo propõe-se ao reconhecimento da demanda não satisfeita mediante mecanismos da participação, não omitindo ou calando, mas antes particularizando, com as devidas e imprescindíveis enfatizações, o co-envolvimento ativo de operadores e utentes.
A utilização potencial privilegia uma coligação orgânica interdisciplinar para uma práxis de trabalho de grupo, segundo um módulo de interdependência horizontal, recuperando, ou antes revalorizando, como sua premissa indispensável e condicionante, uma congruente flexibilidade das estruturas.
KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. p.18 - 19. Segundo o autor, o quadro consta da obra de Cesare Marchi Impariamo Italiano (“Aprendamos o Italiano”) Milão, Rizzoli Ed., 1984, e teria sido elaborado por dois professores universitários italianos no estudo “Prontuário de frases para todos os usos para preencher o vazio de nada”.