Comentário...
Não são muitos os poetas que, na Chapada do Corisco, se arriscam a elaborar poemas concretos, menos ainda são os que, enveredando por tal caminho, conseguem produzir uma obra capaz de fazer evoluir nossa poesia. Risco porque, além de se tratar de uma forma bastante discriminada em nosso meio, a poesia concreta é algo ainda experimental, deixando quem a busca numa situação limite entre a poesia e o poema. A poesia de Cláudio o coloca num grupo mais reduzido ainda – o dos que vêem a poesia como algo que deve andar junto com o risco, com o experimental, com o limite, sem se importar com os valores ou valorações impostos à poesia.
Quem entrar em contato com a poesia de Cláudio perceberá, de imediato, que o mesmo não corre risco algum. Digo, que a sua poesia contribui e muito com o nosso cenário literário, pois se trata do produto de um trabalho sério, amadurecido ao longo de alguns anos – não confundir sério com sisudo, é possível também levar a sério o riso, principalmente quando esse destroça alguns dogmas.
Em sua poesia, a palavra desafia a distinção entre significante e significado, tornando-se, se observada atentamente, forma, movimento, imagem, sentimento... Desafiando, ou melhor, brincando com as palavras, consegue, sua poesia, perscrutar dois universos que são, ao meu ver, postos de forma particularmente brilhante: o feminino e o social. O primeiro, com um misto de adoração, desdém e desejo. O segundo, sempre se pondo contra a ordem estabelecida, principalmente no que diz respeito às torturas causadas pelo capitalismo aos que já foram por ele engolidos ou aos que, entrincheirados, ainda resistem.
Sei que o leitor descobrirá bem mais, sempre haverá em sua poesia algo a ser descoberto, bem mais do que pude, é só esperar sempre mais dessa obra poética que há muito já deveria estar circulando e agora poderá ser apreciada.
Waldinar Alves da Silva.
Poeta e Professor de Literatura