O que é Poesia Engajada?
Magru Floriano
Para os adeptos da arte alienada social e politicamente é suficiente escrever bem, escrever certo. Obedecer a métodos e técnicas. Ser profissionalmente competente e conseguir o retorno financeiro desejado. É a prática da técnica pela técnica. Ser competente é dominar, em um nível de excelência, todas as técnicas disponíveis. O negócio é fazer bem feito para ser admirado, ser reconhecido. Cada verso, cada palavra tem de seguir uma métrica, sonoridade, ritmo, como quem segue uma receita de bolo.
Rubens Alves diz que:
“Quem escreve não escreve a fim de. Para aquele que cria, sua obra é um fim em si mesmo. A literatura não tem objetivos além de si mesma. O prazer da leitura é seu próprio fim [...] a literatura não tem objetivos pedagógicos. Não tem por objetivo a comunicação de idéias. Ela não é uma forma indireta de inculcar verdades que poderiam ser comunicadas de maneira direta em livros de ciência ou filosofia. Um escritor não escreve para comunicar saberes. Escreve para comunicar sabores. O escritor escreve para que o leitor tenha o prazer da leitura [...]”
Por este enfoque, é suficiente que a poesia seja bela. As palavras combinem umas com as outras e estejam em harmonia no texto. Basta que a leitura seja agradável e que o livro venda o máximo de exemplares possível, dando ao seu autor fama e dinheiro. Vale, portanto, a indignação de Monet queixando-se de pessoas que perguntavam sobre os significados de seus quadros: “Não pintei quadros para que tivessem sentido. Pintei quadros para que aqueles que os vissem os achassem bonitos”. O problema é que o belo pode servir a todos os senhores, servir a Deus e ao Diabo, mantendo a consciência do artista em paz, como foi, por exemplo, a música de Wagner para o Nazismo.
A poesia do “belo pelo belo” é, portanto, invariavelmente um projeto individual de seu autor. Mais um ato individual em meio a tantos outros atos individuais. Tudo isso faz sentido para a maioria das pessoas justamente porque estamos em uma sociedade centrada numa lógica de valorização do egoísmo. Acima de tudo e de todos, ficam os interesses individuais do cidadão proprietário. É normal pensar em si mesmo. Vale o ditado popular: “Cada um por si e Deus por todos”.
Mas será que não há outra maneira de ver a arte? Será que não há outra maneira de fazer arte? A arte deve ser apenas tecnicamente competente, ou pode/deve apresentar objetivos mais nobres? A arte deve ser vista apenas como mais um produto posto à venda, nesta sociedade de mercado que tudo transforma em mercadoria, ou pode transitar em um campo para além das relações de troca e de propriedade?
É nesse sentido, fazendo essas reflexões acerca da poesia alienada social e politicamente, que alguns poetas fazem um contraponto, apresentando a Poesia Engajada. Quer dizer, estes artistas entendem que a poesia, enquanto expressão artística, não se esgota em si mesma. Não tem como essência cultivar o “belo pelo belo”, ou ser apenas tecnicamente perfeita, dar dinheiro para o seu autor, trazer fama e sucesso.
A primeira característica deste tipo de arte (Poesia Engajada), portanto, é esta: ela não é neutra. Ser um poeta engajado é ter consciência que estamos em plena batalha por uma sociedade melhor, mais justa, mais humana. Ter consciência de que não é possível ficar alheio, neutro, em pleno cenário de guerra, como se o poeta fosse uma entidade metafísica, cujo corpo não sofresse as mazelas da realidade cruel.
A Poesia Engajada, portanto, é instrumento de luta social. O poeta acredita em um mundo melhor e usa a poesia como arma para alcançar seus objetivos. Fazer poesia é defender uma causa. É ser movido por idéias. No mundo da Poesia Engajada não há lugar para os neutros ou indiferentes. Este é um mundo exclusivo dos que possuem a sensibilidade, ou coragem, de se posicionar. Ser engajado é saber se posicionar a favor de um dos lados em luta.