Cláudio Carvalho Fernandes
"A existência precede a essência"
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Textos

 

 

CARTA  ESCRITA  NO  ANO  2070

 

 

 

 

Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85.

 

Tenho sérios problemas renais porque bebo pouca água.

 

Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.

 

Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro por aproximadamente uma hora. 

 

Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras. Agora, raspamos a cabeça para mantê-la limpa sem água.

 

Antes, meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que utilizávamos a água dessa forma.

 

Recordo que havia muitos anúncios que diziam para CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava atenção.

 

Pensávamos que a água jamais poderia terminar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.

 

Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.

 

A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam os empregados com água potável em vez de salário.

 

Os assaltos por um bujão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética.

 

Antes, a quantidade de água indicada como ideal para se beber era oito copos por dia, por pessoa adulta.  Hoje só posso beber meio copo.

 

A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo. Tivemos que voltar a usar as fossas sépticas como no século passado porque a rede de esgoto não funciona mais por falta de água.

 

A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera.

 

Com o ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos parece ter 40. Os cientistas investigam, mas não há solução possível.

 

Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.

 

Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos. Como conseqüência, há muitas crianças com insuficiências, mutações e deformações.

 

O governo até nos cobra pelo ar que respiramos:  137 m3 por dia por habitante adulto. Quem não pode pagar é retirado das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar. Não são de boa qualidade, mas se pode respirar.

 

A idade média é de 35 anos. Em alguns países restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes.

 

Aqui não há árvores porque quase nunca chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, é de chuva ácida.

 

As estações do ano foram severamente transformadas pelas provas atômicas e pela poluição das indústrias do século XX. Advertiam que era preciso cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.

 

Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo o quão bonito eram os bosques. Lhe falo da chuva e das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse. O quanto nós éramos saudáveis!

 

Ela pergunta-me: - Papai! Por que a água acabou? Então, sinto um nó na garganta!         

 

Não posso deixar de me sentir culpado porque pertenço à geração que acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar atenção a tantos avisos.

 

Agora, nossos filhos pagam um alto preço...

 

Sinceramente, creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.

 

Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreenda isto...

...enquanto ainda é possível fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!

 

 

Texto publicado na revista "Crónicas de los Tiempos“, de Abril de 2002.

 

 

Queridos amigos, este texto não é de minha autoria, porém nos alerta mais uma vez sobre o que muitos não querem ver.

 

Parabéns para a revista Crónicas de los Tiempos (2002)

 

Pense nisso.

 

 

 

 

 

 

Cláudio Carvalho Fernandes
Enviado por Cláudio Carvalho Fernandes em 19/05/2023
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