A CIA, a tortura e a “democracia” estadunidense
John Peterson 07/01/2015
Primeiro foi o escândalo provocado por Chelsea Manning e Julian Assange sobre os assustadores crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão e sobre a conduta cínica da diplomacia estadunidense. Depois, vieram as revelações de Edward Snowden sobre a enorme coleta de informação feita pela NSA. Eles foram tachados de inimigos do Estado, de traidores, e foram ameaçados com a pena de morte. Agora, o governo dos EUA, em uma manobra pré-eleitoral, está expondo a roupa suja hipocritamente, corroborando aquelas revelações e outras depravações ainda maiores do governo.
Primeiro foi o escândalo provocado por Chelsea Manning e Julian Assange sobre os assustadores crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão e sobre a conduta cínica da diplomacia estadunidense. Depois, vieram as revelações de Edward Snowden sobre a enorme coleta de informação feita pela NSA (a Agência de Segurança Nacional do governo dos EUA): soubemos que tudo o que tínhamos lido, escrito ou falado por telefone ou pela Internet na última década ou mais, foi registrado e arquivado e pode ser recuperado a qualquer momento. Eles foram tachados de inimigos do Estado, de traidores, e foram ameaçados com a pena de morte. Os três ou se encontram na prisão ou foram forçados a se esconder ou se exilar. Agora, o governo dos EUA, em uma cínica manobra pré-eleitoral, está expondo a roupa suja hipocritamente, corroborando aquelas revelações e outras depravações ainda maiores do governo.
O relatório do Senado sobre a tortura praticada pela CIA é semelhante à uma novela de Stephen King, à uma transcrição dos julgamentos de Nuremberg ou às descrições de Joseph Mengele sobre Auschwitz. Atrocidades das mais assustadoras foram cometidas em nome do país que protagonizou a Declaração de Independência. Se alguém ainda duvida da podridão degenerada do capitalismo e do imperialismo estadunidense, este relatório coloca isto imediatamente em evidência. Não são “mentiras e propaganda comunistas”, o relatório provém diretamente de fontes primárias.
Lucros e política por outros meios
Em nome da “guerra contra o terrorismo”, G. W. Bush deu partida à corrida do enriquecimento pela via rápida, do “vale tudo”, do caminho livre para os empreiteiros militares e outros serviços. Bush, Cheney e seu grupo de sócios públicos e privados, delinquentes profissionais dos negócios, lucraram sem obstáculos e licitações com os contratos federais, tudo em nome de um “governo enxuto”. Inclusive a tortura foi subcontratada. Segundo o New York Times:
“O chefe dos interrogatórios, cujo nome não figura no relatório, foi contratado no outono de 2002, apesar de que o inspetor geral da agência tivesse sublinhado que ele havia recebido uma ‘censura verbal pelo uso inadequado de técnicas de interrogatório’ em um programa de formação na América Latina durante a década de 1980.
“Os psicólogos Jim Mitchell e Bruce Jessen, que aparecem com os pseudônimos de Grayson Swigert e Hammond Dunbarr no relatório, não tinham experiência para realizar interrogatórios. Haviam trabalhado em um programa de treinamento da Força Aérea dos EUA durante a época da Guerra Fria, em que se dava ao pessoal uma ideia do tratamento duro que poderiam receber no caso de serem capturados pelos inimigos comunistas. O programa – chamado SERE, acrônimo de Sobrevivência, Evasão, Resistência e Escape – não havia sido idealizado para ser utilizado em interrogatórios feitos por estadunidenses, e incluía métodos que os chineses utilizaram na Guerra da Coreia com aviadores estadunidenses para obter confissões falsas.
“O programa permitiu aos psicólogos avaliar seu próprio trabalho – receberam excelentes qualificações – e a cobrar, cada um, 1.800 dólares ao dia, quatro vezes mais que o salário de outros inquisidores, pelo uso de métodos como o ‘submarino’ – ou ‘afogamento simulado’ – contra os detidos. O Dr. Mitchell e o Dr. Jessen constituíram posteriormente uma empresa que assumiu o controle do programa da CIA a partir de 2005 até o seu encerramento em 2009. A CIA pagou 81 milhões de dólares, além de mais 1 milhão de dólares para proteger a empresa de responsabilidade legais.
“No início do programa, diz o relatório, ‘um oficial subalterno em sua primeira missão no estrangeiro’, e que não tinha experiência em prisões ou interrogatórios, foi encarregado de um centro clandestino de detenção da CIA, no Afeganistão, conhecido como ‘Salt Pit’. Outros agentes da CIA haviam sugerido previamente que a ele fosse negado o acesso à informação classificada por conta da sua ‘falta de honestidade, bom senso e maturidade’.
“Em ‘Salt Pit’, o oficial acorrentou um prisioneiro, Gul Rahman, à parede de sua cela, despojado de quase toda a roupa. Rahman foi encontrado morto por hipotermia na manhã seguinte, deitado nu no piso de cimento. Quatro meses depois, o suboficial recebeu uma recompensa em dinheiro de 2.500 dólares por seu ‘trabalho consistente e superior’.
“… As equipes de inquisidores estavam formadas por pessoas que tinham currículos ‘notavelmente negativos’, incluindo um deles com ‘problemas de controle da própria ira nos locais onde tinha trabalhado’ e outro que ‘pelo que parece, havia admitido ato de abuso sexual”.
Isto é somente a ponta do iceberg. Nos calabouços das prisões secretas operadas pela CIA, conhecidas sob os repugnantes nomes de “COBALT” e “Salt Pit”, foi perpetrada uma sucessão de verdadeiros crimes contra a humanidade. Muitos dos suspeitos eram totalmente inocentes. Um deles foi submetido 183 vezes à técnica de afogamento simulado. Outras técnicas utilizadas eram: o desnudamento, a humilhação, a submissão do detido a posições estressantes, com abordagens violentas (envolvia arrastar o indivíduo até uma cela, onde era desnudado, assim como passar por um longo corredor enquanto recebia bofetadas e murros), “a técnica da parede” (que consistia em colocar o detido de frente para uma parede; o inquisidor o atraía para si e logo o lançava violentamente contra a parede), banhos prolongados de água gelada, exposição a temperaturas frias nas celas de cimento, manipulação e privação da alimentação, exposição à luz forte e música a todo volume, sujeição das mãos e dos calcanhares, provocando ferimentos e inchaço nas pernas, falta de atenção médica, aplicação de pressão na artéria do detido, soprar a fumaça de cigarros ou charutos na face do detido, isolamento e confinamento, e privação do sono – em alguns casos por até 180 horas.
Os prisioneiros eram obrigados a vestir fraldas e a fazer nelas suas necessidades; eram desnudados, obrigados a passar entre pessoas com luvas que os golpeavam e os arrastavam na sujeira. Diziam-lhes que suas famílias seriam violadas e degoladas e eles próprios foram ameaçados de abuso sexual. Um dos detidos morreu por hipotermia depois de permanecer horas desnudo em uma cela gelada.
Vários prisioneiros foram submetidos à “alimentação por via retal”. “Era-lhes introduzido um mingau por via retal, mingau feito com húmus, massas com molho, nozes e uvas-passa”. Os verdugos debatiam entre eles as melhores técnicas que podiam utilizar: “sobre o tubo retal, se colocas e abres o cateter intravenoso, o fluxo se autorregulará, espirrando no intestino”. Outro opinava: “deduzo que, se introduzes o cateter tão profundamente quanto possas, a via intravenosa se expande. Não é necessário espremer a bolsa – deixa que a gravidade faça o trabalho”.
Esta barbárie ignóbil não foi realizada pelo ISIS [Estado Islâmico] no Iraque, ou pelos talibãs nas zonas remotas e primitivas do Paquistão ou do Afeganistão. Foi financiada e estimulada pelo país mais rico do mundo em nome de seus cidadãos. Talvez agora mais cidadãos estadunidenses entendam por que tanta gente ao redor do mundo odeia e queima a bandeira dos EUA. Mesmo o ex-chefe da procuradoria militar para os julgamentos de terrorismo em Guantánamo disse que demorará décadas para se desfazer o dano causado à imagem e segurança dos EUA.
Hipocrisia imperialista
Estes horrores foram concebidos na base de violações flagrantes e mentiras. Nenhum dos sequestradores do 11-S [11 de Setembro] era de nacionalidade afegã; contudo, o país foi invadido quase de imediato. Não havia absolutamente nenhuma conexão entre Al Qaeda e Saddam Hussein, e os serviços de inteligência demonstraram claramente que não havia armas de destruição em massa; contudo, o Iraque foi envolvido e submetido à miséria e ao caos. Mais de 1 milhão de iraquianos e afegãos foram assassinados e milhares foram removidos. Também foram mortos vários milhares de soldados estadunidenses, além dos milhares de feridos e traumatizados por toda a vida. Podemos assegurar, sem nenhuma dúvida, que a maioria dos iraquianos, afegãos, iemenitas e paquistaneses, cujas vidas foram arruinadas pelo imperialismo, teria preferido menos “liberdade, civilização e democracia” ao estilo norte-americano e mais comida, infraestrutura, emprego, moradias, educação e saúde! O mesmo pode se dizer dos estadunidenses comuns, que tiveram que pagar a fatura destas guerras através de cortes, austeridade e privações.
Muitos dos políticos “liberais” que agora levam as mãos à cabeça estavam plenamente conscientes do que ocorria há anos. Fizeram vista grossa no momento e cerraram fileiras em torno a Bush e Cheney, mas agora fingem horror e indignação. O ex-chefe da CIA, Michael Hayden, que agora está recolhendo generosos cheques como membro da Junta do Grupo Chertoff, encabeçada pelo ex-chefe do Departamento de Segurança Nacional, Michael Chertoff, disse isto em 2009: “deixem-me recordar que todos os membros de nossos comitês de inteligência, da Câmara de Representantes e do Senado, Republicano e Democrata, estão agora completamente informados sobre o programa de detenção e interrogatórios. Este não é um programa da CIA. Não é um programa do Presidente. É o programa dos EUA”.
Muita gente nas altas esferas do poder sabia que isto era inconcebível. Segundo o jornal The New York Times:
“Em janeiro de 2003, [depois de] dez meses no programa de prisões secretas da Agência Central de Inteligência, o chefe da Agência de interrogatórios enviou um e-mail a seus colegas dizendo que o tratamento implacavelmente brutal dos detidos era um trem sem freios ‘a ponto de descarrilar e penso em sair do trem antes que isto suceda’. Disse ao seu chefe que tinha “sérias reservas” sobre o programa e que não queria mais ser relacionado com ele de ‘forma alguma’.
“A amarga luta interna no programa de interrogatórios da CIA era somente um sintoma da disfunção, desorganização, incompetência, cobiça e engodo que se descreve no resumo do relatório da Comissão de inteligência do Senado. Nas mais de 500 páginas, o resumo, publicado na terça-feira, pinta um quadro devastador de uma agência que não estava capacitada para assumir a tarefa de interrogar suspeitos de Al Qaeda, fracassou no trabalho e em seguida tergiversou os resultados”.
Tudo isto não foi feito pelos nazistas ou pela Inquisição medieval, mas pelos cães de guarda do imperialismo estadunidense na primeira década do século XXI. Não se tratou somente de umas poucas “maçãs podres”, tudo foi feito com pleno conhecimento dos responsáveis mais poderosos dos serviços de inteligência dos EUA, do Senado e do Executivo.
E a cereja do bolo? Nenhuma destas técnicas de “interrogatórios coercitivos” serviu para obter informação na busca de Osama Bin Laden, a notória desculpa que justificava o programa. Nada de nada. Inclusive quando os agentes informaram que não havia nenhuma informação a mais que se pudesse obter daqueles indivíduos mediante a tortura, foi-lhes ordenado por seus superiores “seguir em frente”.
Mesmo o direitista republicano John McCain deixou amplamente claro que o programa de tortura não obteve nada – embora efetivamente tenham sido obtidos grandes lucros. Outros republicanos, como Orrin Hatch, classificaram o relatório de “pura merda política”. O ex-vice-presidente Dick Cheney o considerou “um monte de besteiras” e de “mentiras”. De fato, segundo ele, todo o programa foi legal e impecável e “[os torturadores] merecem o reconhecimento. Quanto ao que me diz respeito, deveriam ser condecorados e não criticados”.
Republicanos e Democratas
Os Democratas do Senado divulgaram o relatório de 6 mil páginas com muito atraso, depois de 5 anos de investigação e negociações, poucas semanas antes de perder o controle oficial dessa câmara do Congresso para os Republicanos. Depois da derrota que sofreram nas eleições intermediárias, decidiram assestar um último golpe e se posicionar melhor antes das eleições de 2016. A mensagem que querem transmitir é que os Democratas não conseguiram muito com o seu programa de “esperança e mudança”, mas que pelo menos foi melhor que os “tempos ruins” sob Bush e Cheney.
A elite governante se mostra tão insegura na hora de fazer as coisas e tão ávida de se manter no poder, que alguns políticos estão dispostos a minar a credibilidade do Estado como um todo, a fim de conseguir alguns pontos à frente de seus “rivais”. Contudo, deveríamos deixar claro que não se trata de uma divisão entre “esquerda” e “direita”, mas entre os setores da classe capitalista para ficar com o botim e o controle do país. Enfrentados a uma crise insuperável do capitalismo – não nos deixemos enganar nem por um minuto pelos altíssimos preços na bolsa de valores, pensando que se logrou uma estabilidade permanente ou uma recuperação econômica – são incapazes de governar pela via tradicional e estão se despedaçando mutuamente na busca de uma chave mágica que não existe.
Ambas as partes defendem os mesmos interesses fundamentais, mas preferem métodos ligeiramente diferentes. E embora tratem inevitavelmente de competir pelo poder e de se derrubarem um ao outro mediante o exibicionismo político barato, os escândalos e as mentiras, no final se unirão indefectivelmente para defender o sistema capitalista dos EUA e sua classe. Apesar das diferenças entre os capitalistas e seus políticos, sempre cerrarão fileiras para se defenderem mutuamente quando estiverem em jogo seus interesses essenciais.
Como é um pouco mais clarividente que o político médio burguês, o presidente Obama sabe que não pode deixar que esta situação escape ao controle, do contrário, a instituição presidencial poderia se ver ameaçada. Para não comprometer mais a presidência de Bush, evitou pessoalmente a abertura de vários documentos que, caso contrário, teriam sido acrescentados ao relatório. Ademais, afirmou que não pensa em processar os implicados. Segundo um comunicado oficial do presidente, “uma das forças que faz dos EUA um país excepcional é nossa vontade de enfrentar o passado abertamente, enfrentar nossas imperfeições, realizar mudanças e torná-lo melhor. Em vez de buscar outras razões para refutar velhos argumentos, espero que o relatório de hoje possa nos ajudar a deixar estas técnicas onde devem estar – no passado”.
Em outras palavras, os torturadores e os que os instigaram e pagaram com milhões de dólares, escaparam sem um arranhão. E embora Obama formalmente tenha proibido tais métodos de interrogatórios em 2009, não devemos ser tão ingênuos para acreditar que abusos semelhantes não continuem existindo de uma forma ou de outra. O presidente não pôde cumprir a promessa de 2008, e que muitos acreditaram ser “favas contadas”: o encerramento do centro de detenção de Guantánamo, que abriga atualmente quase 150 presos. Também assinou uma ampliação da Lei Patriótica e se negou a fechar o programa de espionagem da NSA revelado por Edward Snowden. Além disso, ampliou enormemente o programa de drones de Bush e autorizou o assassinato extrajudicial de cidadãos estadunidenses mediante esta forma de terrorismo tecnológico. Esta é a cara “mais amável e gentil” do imperialismo estadunidense.
Gostamos de citar Gore Vidal: “há somente um partido nos Estados Unidos, o Partido da Propriedade… e tem duas alas de direita: Republicana e Democrata”. Não é nenhum exagero. Desde 1853, os Estados Unidos estiveram governados por um ou outro desses partidos. Em qualquer outro país, esta ditadura poderia ser classificada como tirania. Nos Estados Unidos, passa por democracia e liberdade.
Dizer que os Estados Unidos estão dominados por uma pequena camarilha de famílias e de indivíduos ricos e bem conectados, não é nenhuma teoria da conspiração. Não esqueçamos que Bill Clinton continuou com as sanções e as guerras assassinas de Bush pai; Bush filho continuou com as guerras de Clinton e Obama recolheu o que deixou Bush filho. Seus grandes assessores e equipes se superpõem frequentemente, muitos deles estão em serviço desde as presidências de Nixon e Ford, sem deixar de mencionar a porta giratória constante entre as grandes corporações, Wall Street e os mais altos níveis do governo. Agora, Jeb Bush e Hillary Clinton se encontram entre os favoritos para a presidência em 2016.
Prevendo a tentativa de seu irmão de se converter no terceiro membro eleito da dinastia Bush, há uma campanha midiática em marcha para reabilitar a imagem de G. W. Bush. Como indivíduo, ele é apresentado como inofensivo, divertido e prático, e sua presidência, como subestimada e incompreendida. Dizem que se retirou para uma vida tranquila, que se ocupa de cortar a grama, e que aceitou o desafio de tomar um banho com um balde de água gelada (campanha Ice Bucket Challenge, para doar dinheiro à investigação de um determinado tipo de esclerose), que pinta arte infantil em seu rancho no Texas (embora referir-se ao conjunto de suas “obras” artísticas nesses termos seja um insulto às crianças e à arte). Quando lhe foi perguntado em entrevista recente a quem apoiaria em 2016, se referiu a Bill Clinton como um “irmão de mãe diferente” e a Hillary Clinton como sua “cunhada” – mas que obviamente está alinhado com seu irmão biológico, Jeb. Isto é uma anedota, mas reflete a forma íntima do alinhamento entre Republicanos e Democratas.
“Todo o maldito sistema é culpado”
Depois da decisão de dois Grandes Júris de exonerar os policiais implicados nos assassinatos de Michael Brown e Eric Garner, estas revelações abalaram ainda mais a confiança dos estadunidenses nas instituições do sistema capitalista. Com a mesma impunidade com que agiu a polícia de Ferguson e Staten Island, os torturadores da CIA e seus responsáveis também sairão impunes de seus crimes.
Obama diz que tais métodos de tortura não têm “nada a ver com os valores dos Estados Unidos”. Mas devemos afirmar claramente que não existe tal coisa como “os valores dos Estados Unidos” em abstrato. Existem os valores e os interesses dos trabalhadores e os dos capitalistas. Os primeiros se guiam pelo desejo de ter moradias e postos de trabalho seguros, pensões e aposentadorias, acesso ao atendimento médico e educação de qualidade, e tempo para o ócio com os amigos e familiares. Os valores capitalistas são impulsionados pela busca do todo-poderoso dólar, sem importar o dano colateral causado à humanidade e ao planeta.
Por esta razão, sempre explicamos que, na realidade, há duas Américas do Norte: a América do Norte da minoria da classe governante e a da maioria da classe trabalhadora. A crua realidade é que este país é dirigido por um punhado de pessoas. Possuem as alavancas-chave da economia e utilizam sua riqueza para assegurar sua dominação política. Não importa qual desses partidos esteja no poder, seus interesses básicos serão protegidos. Três diretores consecutivos da CIA mentiram descaradamente sobre o alcance das torturas por uma só razão: é seu trabalho como cães de guarda do sistema fazer o que for necessário para defendê-lo. O Congresso e a Casa Branca fingiram durante uma década que tudo andava bem, precisamente por esta razão.
A política externa é simplesmente uma extensão da política interna. A “legalidade” significa pouco quando os interesses da burguesia e de seu Estado estão em jogo, tanto em casa como no exterior. Como no provérbio do leopardo, um sistema socioeconômico que nos deu as SS de Hitler e a CIA de Bush não pode eliminar suas manchas.
Dessa forma, embora nos repugne, nada disto nos surpreende como Marxistas. Não temos ilusões no Estado burguês e em sua forma de democracia, e sabemos muito bem onde seria capaz de chegar uma classe governante desesperada para manter seus interesses e o poder. Seu discurso grotesco não pode ocultar a realidade para quem aprendeu a ler as entrelinhas.
No futuro, um governo operário abrirá os arquivos, um a um. O que se revelou até agora parecerá um livro infantil em comparação com as monstruosidades que ainda estão para ser conhecidas. Contudo, para milhões de estadunidenses, este relatório ainda será um choque importante. Durante muito tempo, muitas pessoas acreditaram no mito do sonho americano, do suposto excepcionalismo estadunidense, e que vivem realmente na sociedade mais grande, livre e democrática do planeta. Ficarão profundamente decepcionados pelo que se fez em nome do país. A ilusão de que os “Estados Unidos não fazem coisas desse tipo” ou que “isso não acontece aqui” se desvaneceu.
Não obstante, este processo de despertar da consciência somente se encontra em seu início. Apesar deste relatório sórdido, muitos continuarão mantendo firmemente a venda nos olhos, por medo de ver o que realmente está se passando. Mas não poderão fazer isto indefinidamente. Os acontecimentos, os muitos acontecimentos, nos tirarão da letargia auto-imposta e os que hoje se mostram aparentemente mais apáticos, podem muito bem passar à vanguarda dos movimentos de massas para mudar a sociedade no futuro.
Para acabar com o imperialismo, com a guerra, com a tortura e a discriminação, há que se acabar com o capitalismo.