Entrevista com a poetisa Nata ( moreninha29 ), de Shangri-Lá, RS:
01- A pergunta inicial, básica, clássica: Quando, como e por que começou a se interessar por literatura e poesia ? Qual o seu primeiro contato com a literatura?
- RESPOSTA: Começou na escola, através de um trabalho feito em dupla: Tínhamos que fazer um livro só com folhas de ofício e usar a imaginação. Criando rimas, fui criando cenários na minha cabeça. Dali em diante eu descobri que o que eu escrevia me dava uma satisfação, um prazer. Lia alguns livros de um poeta chamado Pedro Sampaio e (isso) foi criando um vínculo maior com a literatura.
02- Qual é a função da literatura e, mais especificamente, da poesia? Poesia e literatura servem para quê? O que se busca na poesia? Qual é O principal desejo de poeta/poetisa? É a eternidade?
- RESPOSTA: A literatura é com certeza um instrumento poderoso de comunicação, capaz de transmitir conhecimento, cultura e, através disso, interagindo com o social. A poesia e a literatura servem para expressar sentimentos ou fantasias, usando a imaginação através das palavras que se transformam em poesias. Eu busco na poesia a sensibilidade onde me identifico, onde as histórias que são escritas por mim ou por quem eu leio trazem sensações boas ou aquelas histórias que me prendem, me chamam a atenção. Meu desejo como poetisa é trazer boas histórias que faça prender o leitor a querer sempre ler, trazendo algo de bom. Eternidade, quando se fala em eternidade eu acredito que um dia não estarei mais aqui e meus filhos, quem sabe, acharão bem escondidos meus escritos e com certeza lembrarão que não somos eternos mas nossas obras, boas lembranças sim, deixando um bom legado.
03- Como tem sido a experiência de trabalhar/batalhar pela poesia e pelas letras num "site" de internete como o “Recanto das Letras”? As leitoras/Os leitores têm interesse por literatura de qualidade e, especificamente, por poesia?
- RESPOSTA: Está sendo uma experiência incrível, já estou há algum tempo escrevendo. O "site" com certeza abriu espaço muito grande. Uma ferramenta avançada, tecnologicamente, e também a interação com outras pessoas que não conhecemos, isso é muito gratificante. Acredito que, no geral, mais tem crescido bastante o interesse dos leitores e escritores. Hoje está tudo mais acessível aos leitores.
04- Para você, o que é e o que não é literatura ou o que é e o que não é poesia? Poesia é algo para se levar a sério – pode transformar as pessoas e o mundo – ou é, para você, só uma “recreação do 'espírito'”?
- RESPOSTA: A literatura pra mim é: Poemas, romances, contos e lendas, o que tenha emoção. E o que não é algo que tenha só informações. Poesia pra mim é manifestação no sentido figurado, sensibilizando e despertando sentimentos compostos por versos. O que não é poesia, acho que tem poesia em tudo, obras de arte, música, teatro e por aí vai. Sim, algo sério: Pra mim, nela tem muita vida, através dela que nos identificamos. É como um aconchego ou um carinho na vida das pessoas.
05- Quanto ao processo de construção de seus poemas/textos, você rascunha esboços? Como se dá predominantemente o seu processo criativo? O escrever é natural, sob inspiração, aleatório e espontâneo ou sob a decisão de escrever algo sobre algum tema? Existem certos dias, ou ocasiões especiais, em que você trabalha/escreve melhor do que em outros? Ou a poesia é exclusivamente labor e transpiração? Drummond ( = inspiração ) ou João Cabral ( = labor )?
- RESPOSTA: Sim, faço muitos rascunhos até que fique do jeito que quero e quem os lê goste do que está lendo. Tem dias que estou sem inspiração, tem vezes que estou fazendo algo e já tenho praticamente ela pronta na cabeça e escrevo. Sim, tem dias que estou em fases melhores então eu extrapolo e dias que não quero compor nada, só quero ler. Acredito que não sou melhor que ninguém, mas considero sim que a minha escrita é boa mas preciso melhorar muito ainda. Então eu não forço nada, simplesmente a inspiração vem e eu escrevo .
06- Em geral, você é mais otimista (“solar”, extrovertido) ou pessimista (intimista, introvertido, individualista) em relação à vida? Como você definiria sua poesia/escrita? Você é um poeta mais dionisíaco ou mais apolíneo?
- RESPOSTA: Me considero otimista e extrovertida. Mas minhas escritas são mais individualistas. Minha escrita se definiria em "A visão de uma eterna romântica e seus versos de amor”. Definindo meu lado dionisíaco.
07- Que poetas/autores você lê? Tem preferências por alguns locais, nacionais ou internacionais? Cite 10 autores indispensáveis em todos os tempos ou estilos de época para a compreensão, percepção e degustação do fenômeno literário no seu local, no Brasil e no mundo. Quais os autores que mais a influenciaram? Cite alguns poetas e/ou escritores pelos quais você tem admiração.
- RESPOSTA: Eu leio muito Luiz Sampaio, Clarice Lispector. Tenho preferência por nacionais: Carlos Drummond, Clarice Lispector, Luiz Sampaio, Alle Barbosa, Mario Quintana, Guimarães Rosa, Ruth Rocha, Martha Medeiros, Luis Fernando Veríssimo, Ana Maria Machado. Luiz Sampaio e Clarice Lispector me influenciaram mais pela leitura e a escrever. Sem sombra de dúvidas, admiro muito todos os que citei mas em especial Clarice Lispector e Luiz Sampaio, obras maravilhosas.
08- Hoje em dia, com as facilidades do mundo moderno, cheio de mil e sempre mais uma opções (ou “opções”), ainda há espaço para a poesia, diante da variedade de coisas, muitas delas de qualidade duvidosa, oferecidas diariamente para as pessoas? Qual é o sentido de escrever poesia hoje, numa sociedade regida pela mídia e pelo mercado? Dá para acreditar em alguma coisa atualmente? Alguma utopia?
- RESPOSTA: Embora alguns esqueceram da poesia, mas acredito sim que tem espaço, ela nunca irá sair de moda. O sentido de escrever poesia, enquanto respiramos e temos esperança de um mundo melhor, é poder espalhar coisas boas em forma de poesias. Pra quem é otimista como eu, sim. Uma sociedade que vivesse em paz, sem coisas trágicas, em que não houvesse tantas coisas ruins.
09- Existe algum poema, frase ou pensamento que sempre a acompanhou ou acompanha por toda a vida? Qual ou quais?
- RESPOSTA: Um poema de Clarice:
Não sei amar pela metade
Não sei viver de mentiras
Não sei voar com os pés no chão.
10- Como tem sido o interesse por suas obras já publicadas, se já as tem? Os leitores têm procurado muito por elas? Quem são as pessoas que a(s) procuram? Vale a pena lutar pela cultura e literatura, especialmente a poesia?
- RESPOSTA: No aplicativo, em duas redes sociais minhas, tem sido positivo às minhas obras. Tem um público bom de leitores que procuram sobre o que escrevo. Sim vale a pena lutar pela literatura e poesia, é algo que me fascina e se aquilo que escreve acrescenta algo de bom ou confortante, divertido, vale a pena sim.
11- Qual(is) você considera que seja(m) o(s) seu(s) melhor(es) poema(s)? Cite um trecho dele(s).
- RESPOSTA: Escrever é algo como metamorfose, tem seu tempo.
Transformação e libertação.
12- O que você acha da utilização da internete e de outros meios ditos modernos para a divulgação de obras e autores? O livro físico (impresso) corre algum perigo de extinção?
- RESPOSTA: Por um lado é bom a internet, mais acessível. Mas nada substitui aquele cheiro das páginas do livro que eu adoro, do tocar, mas acredito que não corre risco de extinção.
13- Você tem participação em concursos literários ? Como a poesia marca seu dia a dia e sua vida? E quais as dificuldades enfrentadas por um escritor poeta para publicar sua(s) obra(s)?
- RESPOSTA: Nunca tive participação em concursos. Sempre em algum momento reservo um tempo para ler e escrever poesias. Pra mim é sagrado. Eu tinha um grande sonho de escrever um livro mas não tenho dinheiro para isso.
14- Parece que as pessoas, comumente, não veem da melhor forma possível o “novo” nas artes em geral. Por que isso acontece? Qual a sua opinião sobre a inovação na poesia e nas artes? Há perigos na busca constante por inovação? Você acha que esta tendência se acentuou nos últimos anos?
- RESPOSTA: Acredito que o público perdeu um pouco o interesse. Hoje em dia só querem postar dancinhas populares ganhando mais força do que a poesia, é claro que a música também é arte. A inovação da poesia que ultimamente vejo são livros digitais. Publicados na internet. Pra mim o mundo evolui e a poesia de um certo modo também, com gírias novas, eu penso assim. Sim, se acentuou.
15- Qual o tipo de público que mais aprecia as suas obras? Há interesse das novas gerações (de dezesseis, dezoito anos) pela literatura e cultura, especialmente pela poesia?
- RESPOSTA: Quase todos os públicos. Sim, tem interesse por parte desses leitores mais jovens, especialmente pela poesia.
16- Qual é o seu olhar sobre a arte (contemporânea)? Como você vê a situação atual da literatura no seu local? E no Brasil? E no mundo? Existe apoio de algum tipo ou mesmo incentivo para a produção cultural, literária e, especialmente, de poesia?
- RESPOSTA: Arte contemporânea, acho interessante não só em galerias e museus mas nas ruas também. Deveria ter um público maior dos que se interessassem em ler livros. Hoje em dia está escasso. No Brasil e no mundo também percebi esse público dos que não pegam um livro pra ler. Na minha cidade não tem apoio.
17- Que conselhos você daria para quem está iniciando na área da literatura e de poesia?
- RESPOSTA: Ler bastante livros, conhecer que tipo de tema o agrada e que vá agradar o público. E deixar a inspiração acontecer.
- Agora, jogo rápido para as perguntas/respostas seguintes:
18- O que te faz feliz?
RESPOSTA: Estar com as pessoas que amo. E poder ajudar as pessoas a ficarem felizes seja na poesia ou em qualquer situação.
19- Um momento que definiu sua vida?
RESPOSTA: Quando descobri que tinha depressão e crises de ansiedade. Quando eu resolvi não esconder meus sentimentos e frustrações. E escrever foi a peça chave pra me sentir bem colocando tudo pra fora.
20- Qual a sua maior qualidade?
RESPOSTA: Eu sou muito paciente.
21- E seu maior defeito?
RESPOSTA: Orgulhosa
22- Quem te inspira?
RESPOSTA: Amigos, familiares.
23- Melhor conselho que já deu?
RESPOSTA: Evite se intrometer.
24- Do que você tem orgulho?
RESPOSTA: Da minha família e de mim por ter me tornado uma pessoa mais forte depois da depressão.
25- Tipo de gente que você tem dificuldade de conviver?
RESPOSTA: Não consigo conviver com pessoas falsas.
26- Qual a melhor década? E por quê?
RESPOSTA: Com certeza década de 80. Porque sou apaixonada por coisas antigas, músicas, móveis, não existia tanta maldade como tem hoje. As crianças tinham toda a liberdade pra brincar na rua com brincadeiras divertidas
27- O melhor dos anos 80?
RESPOSTA: Músicas dos anos 80 me fascinam.
28- E o melhor dos anos 90?
RESPOSTA: As músicas e os estilos.
29- Um sonho?
RESPOSTA: Aprender a dirigir carro.
30- Qual a característica mais importante em uma mulher?
RESPOSTA: Lealdade.
31- E em um homem?
RESPOSTA: Compreensivo. Integridade.
32- O que mais aprecia em seus amigos?
RESPOSTA: Integridade. A liberdade de poder falar o que eu quero e eles me escutarem sem me julgar, apenas me ouvir.
33- O que seria a maior das tragédias?
RESPOSTA: Perder alguém da minha família.
34- Maior conquista como profissional?
RESPOSTA: Prêmio destaque de bom atendimento como atendente comercial.
35- Ideia de felicidade:
RESPOSTA: Ter saúde e o resto a gente corre atrás.
36- Maior conquista até agora?
RESPOSTA: Ter comprado meu carro, agora só falta aprender a dirigir pra tirar (CNH, carteira de) habilitação.
37- Qual o defeito mais fácil de perdoar?
RESPOSTA: A ignorância.
38- E a maior das qualidades?
RESPOSTA: Confiança.
39- O que é sagrado para você?
RESPOSTA: Sagrado é minha família, minha vida, minhas crenças.
40- Quais são seu filmes preferidos?
RESPOSTA: Alfie, o sedutor; A tentação; O diabo veste Prada, e um que assisti faz pouco tempo e me encantei, A maldição de Amélia
41- Indique 5 (ou mais) livros de que você gostou bastante.
RESPOSTA: Outlander; Toda poesia, de Paulo Leminski; Sentimentos poéticos, de Ângela Lit; No poético sentir dos corpos, de Reinadi Rodrigues; e Depois dos últimos poemas, de Nelson Santrim.
42- O que lhe tira do sério?
RESPOSTA: Quando alguém interrompe uma pessoa que estava falando.
43- O que não entra em sua casa?
RESPOSTA: Pessoas com energias ruins ou negativas.
44- Segredo para o sucesso profissional?
RESPOSTA: Muita persistência, determinação e força de vontade.
45- Quem você gostaria de ser se não fosse você mesma?
RESPOSTA: Eu queria ser uma borboleta, poderia ir aonde eu quisesse.
46- Que superpoder gostaria de ter?
RESPOSTA: Voltar no tempo.
47- Indique um (ou uns - 5 – ou mais) livros que você leu recentemente e gostou muito e 3 que você gostaria de ler ou ainda pretende ler.
RESPOSTA: De verso em prosa; A amizade, de Mikael Mansur Martinelli. Pretendo ler Boate Kiss; Depois de você; e Poesias da minha alma, de Almir Carvalho.
48- Você, que é uma morena muito bonita, o que acha do pensamento de Salamah Mussa, de que "Não é a beleza o objetivo da literatura e sim a humanidade"?
RESPOSTA: Concordo. Porque pra mim literatura é um direito que todos nós seres humanos devemos ter.
49- O que diz sobre a expressão de Paul Valéry, “O objetivo profundo do artista é dar mais do que aquilo que tem”?
RESPOSTA: O artista tem que ter uma entrega a mais, ali, na forma exagerada. Ele tem que ter, além dos sentimentos, uma mente criativa.
50- Concorda (ou não), numa perspectiva geral, visto que um dos autores da frase (o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre) também foi literato (engajado), que “A existência precede a essência”? Qual (ou quais) o(s) seu(s) "mote"(s)/pensamento(s) preferido(s)? E o que pensa sobre literatura (especialmente poesia) engajada?
RESPOSTA: Sim, ele existe, se encontra, surge no mundo e se define. O ser humano está condenado a ser livre e é a partir desta condenação à liberdade que o homem se forma. Acho importante a participação nesses movimentos sociais.
51- Qual(is) você considera que seja(m) a(s) sua(s) maior(es) qualidade(s) como escritora/poetisa?
RESPOSTA: Fazer as pessoas felizes.
52- Para finalizar, expresse algo que deseja tornar público e que ainda não tenha sido mencionado anteriormente ou que você queira destacar. Palavra aberta, à vontade.
RESPOSTA: Eu adorei participar dessa entrevista. Deixar um recado para quem aprecia minhas poesias, pessoal do "site", dizer que tenho um carinho enorme por cada um e poder ler suas obras me deixa feliz. Te agradecer, Cláudio, por essa oportunidade de estar falando sobre minhas escritas e sobre a minha vida.
Grato pela sua gentileza em nos conceder esta generosa entrevista, Prezada poetisa Nata poetisa.